Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Histórico. 4. A
Nova Ordem Política, Econômica e Social: 4.1. Constituição Planetária; 4.2. Por
uma Sociedade Sustentável; 4.3. A Nova Ordem Econômica Mundial. 5. O Espiritismo
e as Questões Sociais: 5.1. Liberdade, Igualdade e Fraternidade; 5.2.
Aristocracia Intelecto-Moral; 5.3. Influência do Espiritismo no Progresso. 6. O
Espírita Diante da Sociedade: 6.1. O Que É Ser Espírita?; 6.2. Por Onde Começar
a Nova Ordem Social?; 6.3. Sentimento de Piedade e de Humildade. 7. Conclusão.
8. Bibliografia Consultada. 1. INTRODUÇÃO O objetivo deste estudo é mostrar a contribuição que o
espírita, fundamentado na Doutrina Espírita, pode oferecer para a construção de
uma nova ordem política, econômica e social. 2. CONCEITO Função
– do latim functione significa: 1) Ação
própria ou natural dum órgão, aparelho ou máquina; 2. Cargo, serviço, ofício; 3.
Posição, papel. Social. O termo social pode ser aplicado a tudo o que se
relaciona com sistemas sociais, suas características e a participação das
pessoas neles. Socialismo. De social, do latim socialis =
sociável, feito para a sociedade. O termo constitui o denominador comum de todos
os sistemas que atribuem uma qualquer primazia do social sobre a pessoa. Espírita. O que tem relação com o Espiritismo; adepto do
Espiritismo, aquele que crê nas manifestações dos Espíritos. São espíritas
aqueles que professam a Doutrina Espírita e por sua orientação procuram pautar
sua vida e seus atos. 3. HISTÓRICO Pode-se dizer, grosso modo, que a relação entre o indivíduo e
a sociedade começou a partir do comunismo primitivo, em que os bens eram
distribuídos comunitariamente. Com a descoberta da agricultura, o homem
tornou-se sedentário, passando a delimitar porções de terra para o seu uso,
dando origem à propriedade particular. Utilizava esta propriedade para produzir
excedentes agrícolas, os quais serviam para financiar o aparecimento das
cidades. Do surgimento das cidades, formaram-se grandes impérios econômicos e
estatais, os quais acabaram invadindo outras terras e aumentando o domínio sobre
povos vizinhos. Platão, em o Mito da Caverna, nos dá uma dimensão da
função social do filósofo, quando ele nos fala sobre o indivíduo que saiu das
sombras da caverna e foi em busca da luz. Depois de ter experimentado a
contemplação, uma espécie de êxtase filosófico, foi obrigado a voltar para a
caverna, a fim de ensinar os que lá ficaram. No Cristianismo, Jesus fala-nos do amar ao próximo como a si
mesmo, dando plena demonstração do auxílio que cada ser deve prestar ao seu
semelhante. Paulo, a seu turno, exorta a caridade como bandeira máxima da
função social do ser humano. Ele diz: "Ainda quando eu tivesse a linguagem dos
anjos; quando eu tivesse o dom da profecia, e penetrasse todos os mistérios;
quando eu tivesse toda a fé possível, até transportar as montanhas, se não
tivesse caridade, eu nada seria". Em outro parágrafo, acrescenta: "A caridade é
paciente; é doce e benfazeja; a caridade não é invejosa; não temerária e
precipitada; não se enche de orgulho; não é desdenhosa; não procura seus
próprios interesses; não se melindra e não se irrita com nada; não suspeita mal;
não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade; tudo suporta,
tudo crê, tudo espera, tudo sofre". (1.ª Epístola aos Coríntios, cap. XIII, 1 a
7 e 13) Descartes, Kant, Pascal, Kant, São Francisco de Assis, São
Vicente de Paulo e outros deram também a sua contribuição para o entendimento da
ação social do indivíduo. 4. A NOVA ORDEM POLÍTICA, ECONÔMICA E SOCIAL 4.1. CONSTITUIÇÃO PLANETÁRIA O anteprojeto de Constituição para a Federação do Planeta
Terra data de 1977, quando foi formulada uma Assembléia Constituinte Mundial,
reunida na Áustria, e composta de 135 participantes de 25 países. O objetivo
deste projeto planetário é conscientizar o mundo que as questões ambientais,
hoje, extrapolam as fronteiras nacionais, constituindo-se num problema
planetário. Nesse sentido, o conceito tradicional de segurança por meio da
defesa militar é uma ilusão total tanto para o presente como para o futuro, que
a humanidade é Una, apesar da existência de diversas nações, credos, ideologias
e culturas, e que o princípio da unidade na diversidade é a base para uma nova
era e na qual a guerra será banida e a paz prevalecerá. O organograma do Governo terá em seu topo o Parlamento
Mundial, subdividido em Judiciário Mundial, Executivo Mundial, Sistema de
Vigilância e Ombusdsmen Mundial. Abaixo, nessa ordem hierárquica, teríamos o
Complexo Integrado, subdividido em Administração do Serviço Público Mundial,
Administração das Fronteiras e Eleições Mundiais, Pesquisa e Planejamento,
Administração Financeira Mundial etc. A operacionalidade desse parlamento
mundial se fará através dos órgãos mundiais já existentes, como a ONU, as Nações
Unidas, o FMI etc. (Andrés, 1991) 4.2. POR UMA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL A publicação, em 1994, da 11.ª edição do Relatório do
Worldwatch Institute sobre o Progresso em Direção a uma Sociedade Sustentável
traz à lume as conclusões dos cientistas, das mais diversas áreas. De acordo com
eles, movemos as montanhas para tirar delas os recursos minerais, mudamos os
cursos dos rios para construir cidades, queimamos florestas para abrir caminho à
agricultura e alteramos a composição química da atmosfera quando nela despejamos
nossos resíduos químicos. Todo o esforço para aumentar a produtividade da Terra
está encaminhando para a sua devastação, tornando-a cada vez mais pobre e
dificultando o atendimento às necessidades básicas de sobrevivência. Observam eles que está havendo uma acentuada queda na
resistência imunológica dos seres humanos, que o Banco Mundial não tem certeza
de que os projetos financiados incluam os custos ambientais, que a população e a
economia crescem exponencialmente, enquanto os recursos que as suportam não, que
está aumentando a desigualdade de renda entre os países ricos e os países
pobres, que uma grande parte consome demasiadamente os recursos naturais
enquanto outros o mínimo. Em vista disso propugnam, para a criação de uma sociedade
sustentável, a estabilização e posterior reversão do aumento da concentração de
dióxido de carbono na atmosfera, a preservação da cobertura florestal da Terra e
da biodiversidade, a redução do excesso de consumo de recursos naturais nos
países ricos e a redução da taxa de crescimento populacional nos países pobres,
a diminuição na desigualdade de distribuição de renda entre as nações e dentro
delas, e a melhoria nas condições da mulher. (Brown, 1994) 4.3. A NOVA ORDEM ECONÔMICA MUNDIAL Depois da 2.ª Guerra Mundial, o que predominou nas relações
internacionais foi a chamada guerra-fria, um estado permanente de conflito não
declarado — principalmente entre os Estados Unidos e Rússia — que obrigou os
seus contendores a uma competição armamentista cada vez mais acelerada. Quando a guerra fria extinguiu-se, foram explicitadas novas
maneiras de conduzir o mundo. Assim, procurou-se: a) fornecer a todos os Estados garantias contra a agressão
externa; b) estabelecer um mecanismo para a resolução de conflitos
regionais sem ação unilateral por parte das grandes potências; c) incrementar a assistência técnica e financeira aos países
em desenvolvimento para ajudá-los a acelerar suas taxas de crescimento econômico
e social. Disto resultou a diminuição dos gastos armamentistas e a
vitória das ideologias de mercado externo nos movendo em direção a uma economia
mundial, sem fronteira, altamente interdependente, que incentivará a cooperação
e desencorajará a guerra. 5. O ESPIRITISMO E AS QUESTÕES SOCIAIS 5.1. LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE O lema da Revolução Francesa, Liberdade, Igualdade e
Fraternidade, veiculado em 1789, continua ainda em estado de potência, devendo
cada um de nós a incumbência de atualizá-lo. Allan Kardec, em Obras Póstumas,
nos dá as diretrizes para um perfeito entendimento entre essas três palavras. Para ele, a fraternidade está na primeira linha,
seguida pela igualdade e pela liberdade. Ele diz: "Com efeito,
suponhamos uma sociedade de homens bastante desinteressados, bastante bons e
benévolos para viverem fraternalmente, sem haver entre eles nem privilégios, nem
direitos excepcionais, pois de outro modo não haveria fraternidade. Tratar
alguém de irmão é tratar de igual para igual; é querer quem assim o trate, para
ele, o que para si próprio quereria. Num povo de irmãos, a igualdade será a
conseqüência de seus sentimentos, da maneira de procederem, e se estabelecerá
pela força mesma das coisas... Os homens que vivam como irmãos, com direitos
iguais, animados do sentimento de benevolência recíproca, praticarão entre si a
justiça, não procurarão causar danos uns aos outros e nada, por conseguinte,
terão que temer um dos outros. A liberdade nenhum perigo oferecerá, porque
ninguém pensará em abusar dela em prejuízo de seus semelhantes". (Kardec, 1975,
p. 234) Acrescenta que o orgulho e o egoísmo são os
inimigos tanto da igualdade quanto da liberdade, porque deterioram a relação
funcional entre as pessoas. 5.2. ARISTOCRACIA INTELECTO-MORAL As sociedades em tempo algum prescindem de chefes para se
organizarem. Daí a necessidade da autoridade. Esta autoridade vem se modificando
ao longo do tempo. No início tínhamos a força bruta, depois a do exército. Na
idade Média, a autoridade de Nascença. Segue-se-lhe a influência do dinheiro e
da inteligência, na época atual. Será o fim? Não. Segundo Allan Kardec, em
Obras Póstumas, há que se implantar a aristocracia intelecto-moral.
Aristocracia, vem do grego aristos, melhor, e
kratos, poder. Poder dos melhores. Quando isso efetivamente se der, os
homens que detêm o poder saberão que estão investidos de uma missão e que serão
cobrados pelo bom ou mal uso que fizerem de tal mister. 5.3. INFLUÊNCIA DO ESPIRITISMO NO PROGRESSO De acordo com as instruções dos Espíritos, o Espiritismo se
tornará uma crença comum e marcará uma nova era na História da Humanidade. Em resposta à pergunta 799 de O Livro dos Espíritos –
De que maneira o Espiritismo pode contribuir para o progresso? –, os Espíritos
superiores dizem: "Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade,
ele faz os homens compreenderem onde está o seu verdadeiro interesse. A vida
futura, não estando mais velada pela dúvida, o homem compreenderá melhor que
pode assegurar o seu futuro através do presente. Destruindo os preconceitos de
seita, de casta e de cor ele ensina aos homens a grande solidariedade que os
deve unir como irmãos". (Kardec, 1995) 6. O ESPÍRITA DIANTE DA SOCIEDADE 6.1. O QUE É SER ESPÍRITA? É atuar segundo os pressupostos, codificados por Allan
Kardec, e que compõe o material teórico de estudo, principalmente as Obras
Básicas e as Complementares. Os ensinamentos trazidos pelo codificador não
criaram uma nova moral; apenas facilitaram a compreensão dos ensinos de Jesus. A
Doutrina Espírita elucida, com bastante lógica, a relação que há entre a causa e
efeito, afirmando-nos que o que somos é o resultado do que fomos, tanto nesta
como em outras encarnações. Assim sendo, o acaso, a sorte e o azar são palavras
inventadas simplesmente para encobrir os fatos. O Espírita sabe que deve
construir o seu próprio destino, embora possa sempre contar com as boas
inspirações dos Espíritos superiores. 6.2. POR ONDE COMEÇAR A NOVA ORDEM SOCIAL? Por ele mesmo. Quando o espírita toma consciência de que a
mudança da sociedade deve começar por ele mesmo, ele compreenderá que os seus
gestos e a sua atuação terão um valor excepcional. Não há necessidade de se
colocar em guarda de manhã à noite, mas deverá estar sempre refletindo que o
verdadeiro espírita ou o verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de
justiça, amor e caridade em sua maior pureza. Se interroga a consciência sobre o
seus próprios atos, pergunta se não violou essa lei; se fez todo o bem que
estava ao seu alcance; se ninguém tem o que reclamar dele. Em síntese, se fez ao
outro tudo o que queria que o outro lhe fizesse. 6.3. SENTIMENTO DE PIEDADE E DE HUMILDADE Imbuído de um sentimento de piedade, ele deve se colocar como
um humilde servidor do Cristo, procurando manifestá-lo em todos os lances do
caminho, quer seja na família, no local de trabalho ou na Igreja a qual
freqüenta. Nos dizeres de Allan Kardec: "Reconhece-se o verdadeiro espírita pela
sua transformação moral, e pelos esforços que faz para domar as suas más
inclinações". Assim, não é o cargo que determina a função, mas a moral do
sujeito no cargo que dá um verniz todo especial à função que tem de desempenhar.
Assim, o espiritista sincero substituirá os impulsos antigos,
automatizados no egoísmo, pelos novos, construídos na fraternidade universal,
dando uma nova força à inteligência, porque a "moral do Cristo", indicará o rumo
certo que a inteligência deverá seguir. Desempenhando um cargo público, buscará apoio na moral
elevada e sufocará os interesses mesquinhos, a fim de que a noção de "bem comum"
sobressaia em todos os lances do caminho. 7. CONCLUSÃO Talvez não percebamos de pronto, mas mudando-nos para melhor,
estimularemos os outros a caminharem na mesma direção. Assim, embora sufocados
pelas nossas fraquezas e hesitações, tomemos a nossa charrua e contribuamos
fervorosamente para a implantação do Reino de Deus nos corações que nos cercam.
8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ANDRÉS, M. Constituição Planetária. In BRANDÃO, D. M.
S. e CREMA, R. (org.) O Novo Paradigma Holístico: Ciência, Filosofia, Arte e
Mística. São Paulo, Summus, 1991. São Paulo, maio de 2004.
BROWN, L. R. Qualidade de Vida - 1994: Salve o Planeta. São Paulo, Globo,
1994.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE,
1984.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995.
KARDEC, A. Obras Póstumas. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1975.
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