Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1.
Introdução. 2. Conceito. 3. Considerações Iniciais. 4. Sobre a Consciência: 4.1.
Como Ato Vivencial; 4.2. Consciência Mítica; 4.3. Consciência Racional. 5. Sobre
o Conhecimento: 5.1. Relação Sujeito e Objeto; 5.2. Funções do Conhecimento;
5.3. Conhecimento e Consciência. 6. Consciência, Conhecimento e Espiritismo:
6.1. A Trajetória do Princípio Inteligente; 6.2. Remorso e Satisfação; 6.3. Mais
Instruções dos Espíritos. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada. 1. INTRODUÇÃO No que consiste o conhecimento? Pode-se distinguir o
conhecimento da opinião? O que significa consciência? Há relação entre
consciência e conhecimento? Que tipo de subsídios o Espiritismo pode nos
oferecer para uma melhor compreensão do tema? 2. CONCEITO Consciência
significa etimologicamente um saber
testemunhado ou concomitante. Concomitante. Diz-se de coisa que acompanha outra
sendo esta principal que se produz ao mesmo tempo; simultâneo. Por analogia,
dualidade ou multiplicidade de saberes ou de aspectos num mesmo e único ato de
conhecimento. (Polis) Conhecimento. Conhecer é uma atividade mental por meio da
qual o ser humano se apropria do mundo ao seu redor. 3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Este par de termos consciência e conhecimento acompanha o ser
humano desde longa data. Observe a proposta socrática do conhece-te a ti mesmo,
em que o indivíduo é convidado a tomar consciência de si mesmo, do seu próprio
conhecimento, da sua ignorância. Ao longo do tempo, não foram poucos os
problemas levantados pelos diversos filósofos. Situemos alguns deles: o que pode
ser conhecido? É possível um conhecimento absoluto? Como é possível o
conhecimento, se Sócrates disse que sabia que nada sabia? Por que os homens
desejam conhecer? Até onde pode chegar o conhecimento humano? Pode-se analisar
Deus em termos racionais? Sensação e conhecimento implicam sempre consciência?
Todo conhecimento provém da experiência? Há conhecimento inato? 4. SOBRE A CONSCIÊNCIA 4.1. COMO ATO VIVENCIAL A consciência deve ser compreendida como um ato vivencial. O
ser humano é um ser consciente em que o sujeito se opõe ao objeto. Há, assim,
uma posição dialética com relação ao objeto de conhecimento e assim faz-se a sua
história. Num primeiro instante, há uma abertura para a realidade. Em virtude da
relação dialética, ao mesmo tempo em que o sujeito afirma a
consciência-de-algo, afirma também a consciência de si. Como na dialética,
pressupõe-se uma síntese, esta é obtida pela confluência das duas posições: a do
sujeito e a do objeto. (Perine, 2007, cap. 2) 4.2. CONSCIÊNCIA MÍTICA O ser humano, como indivíduo em face do mundo, começou o seu
grau evolutivo pelo conhecimento do mito. A filosofia, desde o seu aparecimento,
estabeleceu uma relação de amizade e de confronto com o mito. O mito, antes de
tudo, é uma palavra, ou melhor, uma das formas do discurso humano.
O mito assumia a palavra com caráter de sagrado. No mito, temos a
metáfora, que é a transferência de sentido. O logos filosófico não punha
por terra o mito, mas tentava dar-lhe uma forma demonstrativa, um fundamento
baseado na razão, daí a consciência racional. (Perine, 2007, cap. 2) 4.3. CONSCIÊNCIA RACIONAL A consciência racional caracteriza-se pelo uso da razão na
obtenção de conhecimento e da oposição do sujeito ao universal. Na consciência
mítica, há uma oposição do sujeito com relação ao mundo; aqui, uma oposição com
o universal. A abstração dos conhecimentos está calcada no princípio da
liberdade, em que a luz do bem unifica a consciência. O bem dá liberdade
ao individuo de fazer as suas escolhas. Ao fazer as escolhas, torna-se, também,
responsável pelos seus próprios atos. (Perine, 2007, cap. 2) 5. SOBRE O CONHECIMENTO 5.1. RELAÇÃO SUJEITO E OBJETO O conhecimento é a relação que existe entre o "observador" e
a "coisa observada". A realidade é o que é. Ela não é falsa nem verdadeira.
Verdadeiros ou falsos são os nossos juízos acerca da mesma. Se a imagem que
fazemos de um objeto coincide com o que ele é, estamos de posse da verdade; se,
ao contrário, houve um viés, estamos em erro. Assim sendo, é muito mais
importante a imagem que fazemos do objeto do que ele próprio. 5.2. FUNÇÕES DO CONHECIMENTO O filósofo Xavier Zubiri atribui três funções ao
conhecimento: 1) distinguir o que é daquilo que não é, distinguir a essência da
aparência, o real do ilusório; definir, 2) determinar e especificar o que são as
coisas, captando suas diferenças em relação às outras; 3) entender por que as
coisas são como são. (Temática Barsa) 5.3. CONHECIMENTO E CONSCIÊNCIA Conhecimento é um fenômeno consciente. Conhecer é ter
consciência de alguma coisa "ter consciência de qualquer coisa, ser dela
consciente e conhecê-la é identicamente a mesma coisa". Em todo ato de
conhecimento, por mais simples e elementar, é presente, ao menos implicitamente,
a reflexão (consciência do eu), que opõe um sujeito a um objeto. O sujeito deve
transcender no objeto mas não se perder a si mesmo. Adesão não desaparecimento.
6. CONSCIÊNCIA, CONHECIMENTO E ESPIRITISMO 6.1. A TRAJETÓRIA DO PRINCÍPIO INTELIGENTE O princípio inteligente, estagiando no reino mineral,
adquiriu a atração; no reino vegetal, a sensação; no reino animal, o instinto;
no reino hominal, o livre-arbítrio, o pensamento contínuo e a razão. Nosso
passado histórico propiciou-nos a automatização de hábitos e atitudes. Afirma-se
que quanto mais desligado da matéria for o sujeito (Espírito), tanto mais
perfeito será o seu conhecimento. A lei do progresso exige que o princípio
inteligente vá-se despojando dos liames da matéria. Para que tenhamos um olhar
crítico, devemos libertar-nos da obscuridade da matéria, consubstanciada no
egoísmo, no orgulho e no interesse próprio. 6.2. REMORSO E SATISFAÇÃO Na página 245, da Revista Espírita de 1867, de Allan
Kardec, os Espíritos superiores instruem-nos acerca do remorso e da
satisfação interior. Diz-nos que o homem tem consciência que o adverte
quando fez o bem ou fez o mal. Quer abafá-la pelo esquecimento, mas nunca é
completamente abafada. O remorso, que penetra e tortura quando se praticou uma
ação reprovada por Deus, pelos homens, pela honra e pelo senso moral, é como uma
serpente de mil voltas, que exige reparação à pessoa a quem se fez o mal. Para
pôr fim às suas torturas, seu orgulho se dobra e ele confessa os seus crimes. O
remorso é um desenvolvimento do senso moral. Ele não existe onde o senso moral
ainda se acha em estado latente. Suponha que queiramos romper união qualquer: pai e filho,
marido e mulher. Os Espíritos de luz advertem-nos de que devemos consultar a
nossa consciência. Caso permaneça alguma rusga, alguma nevoa, devemos esperar um
pouco mais. 6.3. MAIS INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS "Deus criou todos os Espíritos iguais, simples, inocentes,
sem vícios, e sem virtudes, mas com o livre arbítrio de regular suas ações
segundo um instinto que se chama consciência, e que lhes dá o poder de
distinguir o bem e o mal. Cada Espírito está destinado à mais alta perfeição
junto a Deus e do Cristo; para ali chegar, deve adquirir todos os conhecimentos
pelo estudo de todas as ciências, se iniciar em todas as verdades, se depurar
pela prática de todas as virtudes; ora, como essas qualidades superiores não
podem ser obtidas em uma única vida, todos devem percorrer várias existências
para adquirir os diferentes graus de saber". (Kardec, 1862, p. 84) 7. CONCLUSÃO Quanto mais conhecimento, mais consciência, mais
responsabilidade e mais liberdade. O conhecimento livra-nos da cegueira do
coração e lança-nos à imensidão do desconhecido, mas com a certeza de
desvendá-lo pouco a pouco. 8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA Kardec, Allan.
Revista Espírita de 1862. Kardec, Allan.
Revista Espírita de 1867. PERINE, Marcelo. Ensaio de
Iniciação ao Filosofar. São Paulo: Loyola, 2007. POLIS - ENCICLOPÉDIA
VERBO DA SOCIEDADE E DO ESTADO. São Paulo: Verbo, 1986. TEMÁTICA BARSA. Rio
de Janeiro, Barsa Planeta, 2005.
São Paulo, dezembro de 2009
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