Bem e Mal Sofrer

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Definição de Sofrimento. 3. Considerações Iniciais. 4. Tipos de Dor. 5. Diferença entre Dor e Sofrimento. 6. Sofrimento não é Castigo de Deus. 7. A Lei de Causa e Efeito / Ação e Reação. 8. O Problema da Cruz. 9. Não Vim Trazer a Paz, mas a Espada. 10. Um Trecho das Instruções dos Espíritos. 11. O Negar-se a Si Mesmo. 12. Seguir a Vontade de Deus. 13. Conclusão. 14. Bibliografia Consultada.

1. Introdução

O que é sofrimento? Há diferença entre dor e sofrimento? O que significa bem e mal sofrer? Que subsídios o Espiritismo nos oferece para entender essa questão existencial? De que maneira estamos suportando a nossa provação terrena?

2. Definição de sofrimento

Sentimento de tristeza, mágoa, aflição, pesar, que pode repercutir de maneira mais ou menos intensa sobre o organismo, causando mal-estar.

3. Considerações Iniciais

Este tema “Bem e Mal Sofrer” diz respeito às instruções dos Espíritos (Lacordaire), que se encontra no capítulo V “Bem-Aventurados os Aflitos”, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec.

Este capítulo de O Evangelho Segundo o Espiritismo discorre sobre: justiça das aflições, causas atuais das aflições, causas anteriores das aflições, esquecimento do passado, motivos de resignação, o suicídio e a loucura, a felicidade não é deste mundo, entre outros.

Os Espíritos, neste pequeno trecho, instruem-nos sobre a mudança de nosso comportamento com relação ao sofrimento, pois todos nós sofremos, quer estejamos em castelos ou em choupanas.

Concluem que serão bem-aventurados aqueles que tiverem oportunidade de provarem sua fé, sua firmeza, sua perseverança e sua submissão à vontade de Deus, porque terão em cêntuplo a alegria que lhes falta na Terra.  

4. Tipos de dor

De acordo com a Doutrina Espírita, o ser humano está sujeito a três tipos de dor: 1) DOR-EXPIAÇÃO – refere-se à consequência de uma ação passada; 2) DOR-EVOLUÇÃO – enquanto na dor-expiação somos obrigados a sofrer porque merecemos, nesta ocorre o contrário: sofremos porque temos o anelo da perfeição, a purificação de nossa alma; 3) DOR-AUXÍLIO – tem sentido corretivo, pois os nossos desequilíbrios são tantos que precisamos ficar muitos anos num leito. 

5. Diferença entre dor e sofrimento

A dor é fisiológica; o sofrimento, psicológico. O sofrimento é um conceito mais abrangente e complexo do que a dor. Em se tratando de uma doença, é o sentimento de angústia, vulnerabilidade, perda de controle e ameaça à integridade do eu. Pode existir dor sem sofrimento e sofrimento sem dor. O sofrimento, sendo mais vasto, é existencial. Ele inclui as dimensões psíquicas, psicológicas, sociais e espirituais do ser humano. A dor influi no sofrimento e o sofrimento influi na dor.

6. Sofrimento não é castigo de Deus

A noção de castigo está relacionada com a ofensa a Deus. Dependendo do grau da ofensa, o castigo pode ser eterno. Ao ofender a Deus, o crente sofre e, com isso, a sua vida se torna um vale de lágrimas. O Espiritismo, ao contrário, ensina-nos que todos os nossos sofrimentos estão afeitos à lei de ação e reação. Estudando pormenorizadamente este capítulo (Bem-Aventurados os Aflitos) vamos aprendendo que Deus, inteligência suprema e causa primária de todas as coisas, deixa sempre uma porta aberta ao arrependimento e o ressarcimento da falta cometida.

7. A lei de causa e efeito / ação e reação

A lei de causa e efeito nos mostra que tudo o que fizermos de errado nesta ou em outras vidas deve ser reparado. O primeiro passo é o remorso. O remorso é um estado de alma que nos faz remoer o que fizemos de errado, mostrando as nossas falhas e os nossos deslizes com relação à lei natural. O arrependimento, que vem em seguida, torna-nos mais humildes e mais obedientes a Deus. Depois de remoída e arrependida, a falta deve ser reparada, por isso o resgate. Remorso, arrependimento e resgate fecham o ciclo de uma determinada dor, de um determinado sofrimento.

Reação não é sempre sofrimento? Geralmente, a palavra reação vem impregnada de dor e sofrimento. É empregada como sinônimo de carma (sofrer e resgatar as dívidas do passado). Em realidade, a reação nada mais é do que uma resposta – boa ou má –, em razão de nossas ações. Pergunta-se: se estamos praticando boas ações, por que aguardar o sofrimento?

8. O problema da cruz

A teologia dá grande apreço ao sofrimento, sugerindo que deveríamos imitar o mestre Jesus na cruz, que morreu nessa circunstância para nos salvar. Antes da crucificação, porém, teve que percorrer a via crucis.

Há uma história sobre a cruz que convém relembrar. O indivíduo tinha recebido a sua cruz e deveria carregá-la montanha acima. Como estava pesada, cortou alguns pedaços. Chegando ao topo da montanha, deveria usá-la como ponte para a outra montanha. Conclusão: o comprimento foi insuficiente, e teve de voltar para pegar os pedaços que tinha deixado ao longo do caminho. Pode-e entender como uma metáfora de nossa jornada terrestre que, ao caminharmos, vamos encontrando dificuldades. Fugindo delas, teremos de voltar em uma nova encarnação para a devida reparação. 

9. Não vim trazer a paz, mas a ESPADA

Esta frase diz respeito à ideia nova. Toda ideia nova gera reação, porque nos obriga a sair do nosso comodismo. Qual a primeira reação quando alguém expõe uma ideia nova num determinado grupo? A oposição. Depois de algum tempo, aquela ideia se aclimata no seio do grupo e, de repente, um deles coloca-a em prática, mas raramente diz quem foi o autor dela. Um ponto a destacar: não é a pessoa que tem valor, mas a ideia transmitida. Allan Kardec punha a ideia no seu mais alto grau. Ele não se considerava o proprietário da Doutrina Espírita, mas que a doutrina era dos Espíritos. Ainda hoje alguns dizem que o Espiritismo é de Allan Kardec. Entretanto, Kardec não o revelador tal como foram Moisés e Jesus Cristo. A doutrina é dos Espíritos. Kardec não foi o revelador, mas o codificador.

10. Um trecho das instruções DOS ESPÍRITOS

Eles nos dizem: “... Ficai satisfeitos quando Deus vos envia à luta. Essa luta não é o fogo da batalha, mas as amarguras da vida, onde é preciso, algumas vezes, mais coragem do que num combate sangrento, porque aquele que ficaria firme diante do inimigo, se dobrará sob o constrangimento de uma pena moral. O homem não é recompensado por essa espécie de coragem, mas Deus lhe reserva os louros e um lugar glorioso”.

11. O NEGAR-SE A SI MESMO

Não sem razão, Jesus disse: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”. “Negar a si mesmo” implica deixar o egoísmo de lado, o maior cancro da humanidade. Seguir Jesus é apagar-se para que o mestre resplandeça, é humilhar-se para que Deus seja engrandecido, é calar-se para que o outro fale, é morrer para a vida presente, a fim de se preparar para a vida futura, a verdadeira vida do Espírito.

12. SEGUIR A VONTADE DE DEUS

Seguir a vontade de Deus implica guerrearmos os pensamentos inúteis, os sonhos vãos e a imaginação improdutiva. Não é uma guerra violenta, em que há armas e muitos homens mortos, mas uma luta constante para mantermos o pensamento sóbrio. Sob esse mister, convém tomarmos consciência de que não estamos encarnados para gozar de Deus, mas para o trabalho, o sofrimento e a luta. Há, contudo, um consolo para este mal-estar: ele nos torna mais dóceis, mais cientes de nossa pequenez e nos aproxima constantemente da perfeição.

13. Conclusão

Saibamos sofrer com resignação, pois vencendo o egoísmo, a vaidade e o amor próprio estaremos aptos a entrar no reino dos céus.

14. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.

São Paulo, janeiro de 2018. 

 

Copyright © 2010 por Sérgio Biagi Gregório
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