SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito: 2.1. Real; 2.2. Ilusão; 2.2.1. Etimologia; 2.2.2. Natureza da Ilusão; 2.2.3. Espécies de Ilusão; 2.2.3.1. Ilusões Normais; 2.2.3.2. Ilusões Anormais. 3. Histórico. 4. Duplicidade do Real: A Ilusão: 4.1. Tolerância; 4.2. Recusa do Real. 5. Percepção: 5.1. Noção; 5.2. Ondas e Percepções; 5.3. Percepção Sensorial e Percepção Extra-Sensorial; 5.4. Monoideísmo; 5.5. A Imaginação é Fértil; 5.6. Emissão e Recepção. 6. Cura da Ilusão: 6.1. Enfrentar a Realidade (O Problema); 6.2. Tenhamos Olhos para Ver e Ouvidos para Ouvir; 6.3. Auto-Aceitação; 6.4. Auxílio Espiritual. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste estudo é analisar o grau de tolerância (ilusão) frente às verdades que a realidade nos mostra. Para tanto, conceituaremos os termos real e ilusão, faremos um pequeno histórico da filosofia do real, analisaremos a duplicidade do real, discutiremos o problema da percepção e verificaremos a possibilidade de cura da ilusão.
2. CONCEITO
2.1. REAL
W. Brugger, em seu Dicionário de Filosofia, diz-nos que na hodierna terminologia filosófica, o termo "real" designa, via de regra, o ente, o que existe em oposição tanto ao que é apenas aparente quanto ao que é puramente possível. Existe em si independentemente de nossa representação e de nosso pensamento.
Para Legrand, também em seu Dicionário de Filosofia, a realidade opõe-se ao imaginário e ao ilusório, mas sem estes não a concebemos. A própria alucinação é uma realidade para o alucinado (e uma outra realidade para aquele que o ouve e trata-o).
2.2. ILUSÃO
2.2.1 ETIMOLOGIA
Derivando do latim illudere (ludere, "jogar" + in, "sobre"): enganar, troçar, escarnecer. Usa-se geralmente o termo "ilusão" para significar um erro ou engano dos sentidos e do juízo.
2.2.2. NATUREZA DA ILUSÃO
percepção errônea ou equivocada, devido à má interpretação dos dados dos sentidos ou dos elementos de uma experiência vital. O erro não está no dado sensível, mas no que se lhe junta.
2.2.3. ESPÉCIES DE ILUSÃO
2.2.3.1. ILUSÕES NORMAIS — as que se produzem sempre nas condições normais de percepção, por nascerem das características do mecanismo sensível, e de acordo com as leis físicas e orgânicas.
Estão no caso das ilusões normais:
1) ilusões visuais
- ilusões de movimento — um objeto imóvel parece mover-se. É o caso das árvores vistas pela janela de um comboio em andamento;
- ilusões de leitura — pau reto que parece quebrado quando dentro da água.
2) ilusões auditivas — caso sobretudo do eco.
3) ilusões tácteis — ilusão dos amputados.
2.2.3.2. ILUSÕES ANORMAIS — as resultantes de deficiências acidentais, congênitas ou adquiridas.
Podem ser:
- fisiológicas: acromatopsia, discromatopsia, daltonismo, lesões orgânicas periféricas ou centrais etc.
- psicológicas: falta de atenção ao objeto, atenção expectante etc. (ver Logos – Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia)
3. HISTÓRICO
O realismo — estado do res (coisa) — começou certamente na Grécia; e começou com o discernimento entre as coisas. O primeiro esforço filosófico do homem foi feito pelos gregos e começou sendo um esforço para discernir entre aquilo que tem uma existência meramente aparente e aquilo que tem uma existência real, uma existência em si, uma existência primordial, irredutível a outra.
A busca da coisa em si, denominavam da busca do "princípio".
Tales de Mileto — água;
Anaxímenes — ar;
Empédocles — água, terra, ar, fogo;
Pitágoras — número;
Heráclito — fluir da realidade;
Platão — mito da caverna
Para Platão, a maioria dos seres humanos se encontra como prisioneira de uma caverna, permanecendo de costas para a abertura luminosa e de frente para a parede escura do fundo. Devido a uma luz que entra na caverna, o prisioneiro contempla na parede do fundo as projeções dos seres que compõe a realidade. Acostumado a ver somente essas projeções, assume a ilusão do que vê, as sombras do real, como se fosse a verdadeira realidade.
Segundo Platão, somente os filósofos — eternos buscadores da verdade — é que teriam condições de libertar-se da ilusão do mundo sensível e atingir a plena sabedoria da realidade.
Aristóteles — discorda do mundo das idéias de Platão, mas tem dificuldade de explicar o sensível
Para Descartes o objeto do conhecimento humano é somente a idéia.
Desse ponto de vista torna-se imediatamente duvidosa a existência daquela realidade à qual a idéia parece fazer alusão mas não prova, assim como uma pintura não prova a realidade da coisa representada.
Há outros nomes que poderíamos arrolar. Para o nosso propósito é suficiente, pois queremos discutir o termo em si e não fazer uma biografia histórica do assunto. (Garcia Morente, 1970, Lição V a VII)
4. DUPLICIDADE DO REAL: A ILUSÃO
4.1. TOLERÂNCIA
Clément Rosset em seu livro O Real e seu duplo retrata a ilusão de uma forma bastante ilustrativa. Seu ponto de partida é a tolerância. Diz-nos que aceitamos o real, mas quando o nível de tolerância é suspenso, já não o queremos mais ver. Daí partirmos para uma recusa do real.
4.2. RECUSA DO REAL
Pode ser de dois tipos:
a) radical:
é o caso daqueles que cometem o suicídio. Vejo o real mas não tenho forças de enfrentá-lo. Dar cabo à vida seria mais fácil.
Posso também suprimir o real com menos inconvenientes, salvando a minha vida ao preço de uma ruína mental: fórmula da loucura, muita segura também, mas que não está ao alcance de qualquer um: "Não é louco quem quer". (Rosset, 1998, p.12 e 13)
b) flexível:
vejo, admito, mas mudo-o para a minha conveniência. Pode-se dizer que a percepção do iludido é como que cindida em dois: o aspecto teórico (que designa justamente "aquilo que se vê", de theorein) emancipa-se artificialmente do aspecto prático ("aquilo que se faz")
A peça Boubouroche (1893) de Georges Courteline é um exemplo dessa ilusão. Boubouroche instalou a sua amante, Adèle, em um pequeno apartamento. Um vizinho de andar de Adèle previne caridosamente da traição quotidiana de que é vítima este último: Adèle partilha o seu apartamento com um jovem namorado que se esconde num armário toda vez que Boubouroche visita sua amante. Louco de raiva Boubouroche irrompe numa hora inabitual e descobre o amante no armário. Cólera de Boubouroche, à qual Adèle responde com um silêncio desgostoso e indignado: "Você é tão vulgar", declara ao seu protetor, "que não merece nem a mais simples explicação que logo teria dado a outro, se ele tivesse sido menos grosseiro. É melhor nos separarmos". Boubouroche admite os seus erros e perdoa Adèle. Moral da história: Boubouroche, mesmo desfrutando de uma visão correta dos acontecimentos, mesmo tendo surpreendido o seu rival no esconderijo, continua a acreditar na inocência da sua amante. (Rosset, 1998, p. 14 a 21)
5. PERCEPÇÃO
5.1. NOÇÃO
Etimologia: do lat. perceptio, ação de recolher, colheita.
A. Filosofia: em Leibniz, representação do múltiplo na unidade.
B. Psicologia: função pela qual o espírito organiza suas sensações e forma uma representação dos objetos externos.
5.2. ONDAS E PERCEPÇÕES
O espectro eletromagnético varia em extensão de ondas de 10-14 a 108 metros, mas os receptores sensíveis à luz nos olhos são percebidos numa faixa de 1/70 do espectro; os ouvidos captam entre 20 a 20.000 vibrações por segundo.
Quantas realidades não existem além das fronteiras de nossa consciência? (Xavier, 1977, cap. I)
5.3. PERCEPÇÃO SENSORIAL E PERCEPÇÃO EXTRA-SENSORIAL
Há o mundo sensível e o extra-sensível. Onde está a realidade? A mediunidade é a faculdade humana que capacita o homem a entrar em contato com o mundo extra sensorial.
Além da matéria não há uma realidade espiritual? Qual é a verdadeira?
5.4. MONOIDEÍSMO
Idéias fixas fazem-nos fugir do "real". Ficamos dentro de uma redoma.
Pensamos que estamos de posse da verdade, mas na maioria das vezes somos envolvidos pelos Espíritos menos felizes.
5.5. A IMAGINAÇÃO É FÉRTIL
Emitindo uma idéia, passamos a refletir as que se lhe assemelham. É possível que estejamos criando imagens mentais que não existem na realidade.
5.6. EMISSÃO E RECEPÇÃO
Nossa mente é emissora e receptora de imagens. Se não cuidarmos da fonte geradora, poderemos irradiar "criações mentais" que nada têm a ver com a verdadeira realidade espiritual.
6. CURA DA ILUSÃO
6.1. ENFRENTAR A REALIDADE (O PROBLEMA)
Geralmente partimos para fuga, para o não querer se preocupar, fazer vistas grossas. Se nos assoma uma tristeza pela morte de um familiar, vamos buscar a compensação nos entretenimentos, nas companhias, na bebida etc., esquecendo-nos de que cultivar a tristeza é o melhor antídoto contra a sua depressão.
6.2. TENHAMOS OLHOS PARA VER E OUVIDOS PARA OUVIR
Se acostumarmo-nos a olhar tudo sem defesas, sem desculpas talvez pudéssemos melhor captar a realidade que está à nossa volta.
6.3. AUTO-ACEITAÇÃO
Se nos contam um problema difícil, temos mil conselhos para dar. Mas quando o problema é nosso, não aplicamos o dito conselho a nós mesmos.
6.4. AUXÍLIO ESPIRITUAL
Todos nós, independentemente de pertencermos ou não a um Centro Espírita, podemos solicitar a ajuda dos amigos espirituais e eles poderão nos auxiliar. Por que não pedirmos para tirar a trave do nosso olho a fim de melhor enxergar a realidade que nos envolve?
7. CONCLUSÃO
O discurso humano, que se expressa pela linguagem, é extremamente ambíguo. Muitas vezes mentimos com os lábios, mas os nossos gestos revelam a verdade. Esperamos que essa pequena incursão sobre a ilusão possa alertar-nos quanto aos erros de interpretação da realidade.
8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BRUGGER, W. Dicionário de Filosofia. 3. ed., São Paulo, EPU, 1977.
GARCIA MORENTE, M. Fundamentos de Filosofia - Lições Preliminares. 4.
ed., São Paulo, Mestre Jou, 1970.
LEGRAND, G. Dicionário de Filosofia. Lisboa, Edições 70, 1982.
LOGOS - Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia. Rio de Janeiro, Verbo,
1990.
ROSSET, C. O Real e Seu Duplo - Ensaio sobre a Ilusão. Porto Alegre, L&PM, 1998.
XAVIER, F. C. Mecanismos da Mediunidade, pelo Espírito André Luiz. 8.
ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977.
São Paulo, janeiro de 1999
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