Preconceito

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Considerações Iniciais. 4. Caracterizando o Preconceito: 4.1. Estigma; 4.2. Crenças e Opiniões; 4.3. Entrave ao Princípio Único. 5. Rompendo com os Preconceitos: 5.1. Advertência de Descartes; 5.2. Dispor os Dados à Critica da Universalidade; 5.3. Pensar Criticamente. 6. Mudança Comportamental e Espiritismo: 6.1. Do Cérebro Velho ao Cérebro Novo; 6.2. Distância entre Fato e Reação; 6.3. Subsídios Espíritas. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.  

1. INTRODUÇÃO

O que é preconceito? Quais dos nossos atos cotidianos revelam preconceito? O Espiritismo tem preconceitos? E os Espíritas? Refletir sobre os princípios doutrinários, codificados por Allan Kardec, livra-nos dos preconceitos?  

2. CONCEITO

Preconceito. Designa um julgamento prévio rígido e negativo sobre um indivíduo ou grupo. As conotações básicas incluem inclinação, parcialidade, predisposição, prevenção. No uso moderno, o termo veicula muitos significados variantes. Comuns à maioria deles, contudo, são as noções de julgamento prévio desfavorável efetuado antes de um exame ponderado e completo, e mantido rigidamente mesmo em face de provas que o contradizem. (Outhwaite, 1996)

3. Considerações iniciais

O preconceito é um tema sempre atual.

Pensar e refletir sobre o seu significado e as situações em que possa emergir é de vital importância para nosso aprendizado na vida.

Há necessidade de verificarmos se o combate ao preconceito não está criando novos preconceitos.

Descartes, por exemplo, querendo combater o preconceito, criou outro. Ele dizia que a força dos preconceitos se deve ao fato de que “todos nós fomos crianças antes de sermos homens” e começamos a pensar muito antes de saber raciocinar (se é que sabemos). O remédio, segundo Descartes, é a dúvida e o método. Onde está o preconceito aqui? Não é por ser homem, e mesmo um grande homem, que se deixa de ser criança. (Comte-Sponville, 2003)

Tenhamos em mente que a descoberta da verdade é impedida, muito mais pelo preconceito, do que pela falsa aparência que as coisas apresentam, e que podem induzir-nos ao erro. O preconceito é aquela erva daninha que obscurece o curso de nosso raciocínio e impede-nos de ter uma visão mais clara da realidade.

4. Caracterizando o preconceito

4.1. Estigma

Estigma é cicatriz, marca, sinal. As nossas concepções ingênuas, geralmente provenientes da tradição e dos costumes, forjaram “ideologias” e estigmatizaram “povos”. Não paramos para pensar se as atitudes de alguns indivíduos referem-se ou não à totalidade das pessoas. Com uma ideia pré-definida vamos marcando as pessoas, tais como, o judeu é ganancioso, o negro é indolente, os americanos são superficiais, e assim por diante.

4.2. crenças e opiniões  

As crenças e opiniões são transmitidas sem exame e sem crítica. Muitos as internalizam sem se darem conta disso, acabando por influenciar o seu modo de agir e de considerar as coisas.

Há crenças e crenças, como, por exemplo, as de caráter científico, tal qual a de que a Terra gira ao redor do Sol. Porém, a maioria delas, é o resultado da tradição e da autoridade. Ao atendermos cegamente os ditames da autoridade e da tradição, estaremos perpetuando muitos preconceitos, sem imaginarmos que os são. (Japiassu, 2008)

4.3. Entrave ao Princípio Único

O preconceito é um entrave à percepção do princípio único. Por quê? O preconceituoso é um indivíduo que forma antecipadamente um sistema de valores e atua segundo ele. Como o faz previamente, quer que tudo se ajuste ao seu modo de pensar. Acontece que as coisas são o que são; não podemos mudá-las a nosso bel-prazer. A verdade não pode ser contestada; ela deve ser intuída. Não exijamos, assim, que as coisas aconteçam deste ou daquele jeito, mas mantenhamos a nossa mente aberta para o que estiver acontecendo, quer seja agradável, quer não.

5. Rompendo com os Preconceitos

5.1. Advertência de Descartes

Descartes advertiu que o preconceito e a precipitação, dois vícios comuns da humanidade, prejudicam o juízo e impedem a descoberta da verdade. O preconceito, ideia formada antecipadamente, não nos deixa ver as coisas como elas realmente as são. A precipitação, por seu turno, faz-nos opinar sobre um acontecimento sem dele ter a necessária informação, para uma avaliação mais justa e correta.

5.2. Dispor os dados à Critica da Universalidade

Ver a parte dentro do todo. A verdade à luz de uma vela não é a mesma à luz do Sol. Para explicitar este ponto, façamos uma comparação entre ser religioso e ter uma religião.  O religioso está aberto a qualquer tipo de experiência; o que tem uma religião, apenas aos seus dogmas. Pensar – fora dos parâmetros estabelecidos – exige a postura do pensamento que está sempre à procura da verdade, esteja ela onde estiver. A verdade não é monopólio de uma religião, de uma instituição. Ela pertence ao patrimônio comum das inteligências.

5.3. Pensar criticamente

Construímos, ao longo do tempo, conceitos que, sem a devida problematização, tornaram-se dogmáticos e superficiais.

A crítica consiste “num discernimento, num esforço de separar o que pode ser reconhecido como válido daquilo que não o é, a fim de reencontrar as orientações autênticas das intencionalidades constitutivas”. Precisamos sair das particularidades para ver os fatos dentro de uma perspectiva mais ampla, mais de acordo com espírito crítico e não o espírito de crítica.  

6. Mudança comportamental e Espiritismo 

6.1. Do cérebro velho ao cérebro novo 

O cérebro velho está acostumado com um tipo de resposta, com um tipo de comportamento. O novo causa-lhe incômodo. Quando propomos ao cérebro outro tipo de resposta, fazemo-lo agir em nosso benefício. Por isso, devemos estar sempre testando e propondo novos caminhos ao nosso cérebro. O desafio, embora lhe causando estranheza, com o tempo, torna-se um hábito, um hábito que o incentiva a se modificar.  

6.2. Distância entre fato e reação  

De acordo com Krishnamurti, em O Mistério da Compreensão, o cérebro se torna novo quando há uma distância entre um fato e a reação do sujeito em relação a este mesmo fato. Quando reagimos imediatamente, estamos apenas confirmando o nosso ponto de vista, as nossas opiniões, o nosso preconceito, a nossa superficialidade. Para que um cérebro se torne novo, devemos conceder-lhe um tempo para refletir, para pensar, para sopesar, para meditar.  

6.3. Subsídios espíritas 

Os princípios doutrinários, codificados por Allan Kardec, fornecem-nos elementos substanciais para a nossa transformação moral, intelectual e espiritual. Valendo-nos dos ensinamentos, veiculados em suas obras básicas e complementares, conseguiremos alicerçar a nossa fé na razão, podendo, a partir daí, analisar qualquer fato dentro da lógica, que nos leva a rejeitar tudo o que não estiver de acordo com a verdade. Nesse caso, os preconceitos são reduzidos ao mínimo possível. Permanecerão somente aqueles próprios da nossa ignorância e os da nossa recusa em aceitar os fundamentos doutrinários. 

7. Conclusão  

O preconceito é uma erva daninha. Muitas vezes, fica enrustido em nosso subconsciente, mascarando os fatos à nossa frente. Ouvir os outros e achar que podemos estar errados são fundamentais para erradicá-lo de nossa mente.  

8. Bibliografia Consultada 

OUTHWAITE. W. e BOTTOMORE, T. Dicionário do Pensamento Social do Século XX. Rio de Janeiro, Zahar, 1996.

COMTE-SPONVILLE, André, André. Dicionário Filosófico. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

São Paulo, novembro de 2011

Copyright © 2010 por Sérgio Biagi Gregório
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