Notas sobre alguns Existencialistas

Kierkegaard, Soren Aabye (1813-1855). Filósofo e escritor dinamarquês. Estudou Filosofia e Teologia e desde 1841 viveu na Alemanha. Profundamente marcado por angústias pessoais e familiares às quais se somou a crise provocada pelo rompimento de seu noivado com Regina. Atacou o cristianismo. Combateu o hegelianismo e a metafísica (pelo seu caráter abstrato), defendendo a necessidade de uma “filosofia existencial”.

Para Kierkegaard, o homem é um ser que se caracteriza pelo desespero que se origina das contradições de sua existência e de sua distância de Deus: “O homem é uma síntese de infinito e finito, de temporal e eterno, de liberdade e necessidade” (Desespero Humano). Em sua obra Estágios do Caminho da Vida (1845), formula uma doutrina de três níveis de consciência, o estético, no qual o individuo busca a felicidade no prazer, cuja fugacidade entretanto leva ao desespero inevitável; o ético, em que procura alcançar a felicidade pelo cumprimento do dever, sendo no entanto condenado ao eterno arrependimento por suas faltas; e finalmente, o religioso, em que o homem busca Deus, entretanto a verdadeira fé é a angústia da distância de Deus. (Japiassú, 2008)

Heidegger, Martin (1990-1976) filósofo alemão, discípulo de Husserl (que desenvolveu a fenomenologia) e umas das influências do existencialismo. Para Heidegger, a existência só pode ser compreendida a partir da análise do Dasein (o ser-aí), do ser humano aberto à compreensão do ser. Heidegger diz que no homem a sua essência consiste na sua existência, isto é, que o Dasein é a sua possibilidade de realização, e que a existência é sempre minha e por isso deve ser construída e conquistada – realizar-se na existência autêntica ou perder-se na existência inautêntica.

O Dasein encontra-se jogado no mundo à sua revelia, sempre à mercê do medo e da angústia. Normalmente oculto pela cotidianidade da existência, o sentimento do abandono e da solidão revela a realidade mais profunda da condição humana, e o seu reconhecimento e a característica da existência autêntica.

Habituado na inautenticidade, que lhe oculta a realidade da própria condição, o homem, no entanto, é capaz de verdade, quer dizer, de desvelar ou revelar a si mesmo a temporalidade essencial de sua existência, de ser-para-a-morte. Sempre incompleto, inacabado, procurando realizar projetos que jamais se cumpriu integralmente. O Dasein não é afetado pela morte como por um acontecimento exterior, mas é, essencial e constitutivamente, um ser-para-a-morte. A angústia que revela a temporalidade e a mortalidade do Dasein, permite, assim, o acesso à existência autêntica. (Enciclopédia Mirador)

Sartre, Jean-Paul (1905-1980).  Filósofo e escritor francês principal proponente do existencialismo nos anos do pós-guerra. Seu trabalho filosófico principal, O Ser e o Nada (1943), tentava caracterizar as estruturas fundamentais da existência humana descrevendo o choque entre a consciência e o mundo objetivo, de forma a dar proeminência àquilo que Sartre considerava a característica que define os seres humanos: sua liberdade.

O ponto de partida da filosofia existencialista é a náusea, esse sentimento (ou mal-estar) que ele atribui a seu personagem romanesco Antoine Roquentim.

Procura demonstrar que o Ego não está na consciência mas no exterior, no mundo, onde encontra o seu lugar de existência. No mundo, o ego aparece em “perigo”. Para demonstrar essa periculosidade, começa com o pressuposto de que a existência precede a essência. A consciência, para ele, não é algo interior ao pensamento, mas um ato de exteriorização de si. 

A certeza reflexiva do cogito mantém a consciência. O cogito, porém, surge ofuscado pela inquietude da “facticidade”. Mesmo “estilhaçado”, o cogito se abre à liberdade, pois existir é superar a existência em direção à impossível essência, mas esse movimento é também transcendência. Em sua lucubração filosófica, a náusea é o inverso da liberdade. (Descamps, 1981)

Marcel, Gabriel (1809-1973). Filósofo, jornalista e dramaturgo francês. Inimigo de qualquer pensamento sistemático, encontra sua inspiração em Pascal e Kierkegaard, tornando-se o principal representante na França do “existencialismo cristão” (expressão que rejeita).

Recusando-se a explicar o homem como uma coisa, denuncia as condutas (ciências, tecnocracia) que tentam utilizá-lo como objeto. Colocado diante de mim, o objeto é estudado de fora e constitui um problema; ao contrário, o sujeito, em sua existência pessoal é irredutível ao problema e ao Ter: dependendo do ser, introduz-nos no domínio do mistério, que não é incognoscível, face negativa do problemático, mas que em compensação, situa o indivíduo responsável diante dele mesmo. O mistério forma a dimensão metafísica do ser e dá um sentido à fé e à liberdade (Durozoi, 1993)

A sua filosofia é mais discursiva do que sistemática: prefere a reflexão às simples conclusões tiradas. Acredita na pessoa humana, não como mero expectador, mas como participante ativo da vida e do mundo. Dizia-se socrático e questionador mais do que existencialista (não gostava que o chamassem de existencialista). A noção de transcendência é única diferença de suas teses com a dos existencialistas.  

Mearleau-Ponty, Maurice (1908-1961). Sofreu a influência do existencialismo e das fenomenologias de Husserl e Heidegger. Assinala que a fenomenologia “recoloca as essências na existência e não pensa ser possível compreender o homem e o mundo de outro modo senão a partir de sua facticidade”.

Analista do pensamento pré-reflexivo dedica-se a mostrar o que existe de irrefletido na percepção imediata, com o sentido implícito que ela encerra e que pesará com todo o seu peso na elaboração definitiva. Filósofo do vivido, descreve a relação intencional que o sujeito – encarnado em sua situação histórica – às coisas e ao outro.

Mostra “corolariamente” que, para o filósofo, não pode existir lugar definitivo (Igreja, partido) da verdade, na medida em que o refúgio ou abrigo num tal lugar esqueceria a dimensão histórica do vivido: as “evidências” propostas pela história não podem ser admitidas como tal pela filosofia – à qual cabe desde então construir uma teoria do sentido na história e dos “signos” que o manifestem, signos tão bem formados quanto destruídos pela ação humana. (Durozoi, 1993)

DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.

JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL. São Paulo: Encyclopaedia Britannica, 1987.

DESCAMPS, Christian. Os Existencialismos. In: CHÂTELET, François (org.). História da Filosofia: a Filosofia do Século XX. Lisboa: Dom Quixote, 1981.

São Paulo, outubro de 2010

Copyright © 2010 por Sérgio Biagi Gregório
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