"[...] o conhecimento tem relação com o conhecedor, que é essencialmente um
indivíduo existente, e [isso] por essa razão todo conhecimento essencial está
relacionado essencialmente à existência."
Pós-escrito conclusivo não científico às "Migalhas filosóficas"
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Dados Pessoais. 3. Considerações Iniciais. 4. Obras de Kierkegaard. 5. Kierkegaard e Pascal. 6. Liberdade e Angústia. 7. Os Três Estados da Vida. 8. Salvação. 9. Frases de Kierkegaard. 10. Notas sobre suas Obras. 11. Bibliografia Consultada.
1. INTRODUÇÃO
Quem foi Kierkegaard? Qual a sua contribuição para a história da filosofia? Em que época viveu? Quais obras nos deixou?
2. DADOS PESSOAIS
Kierkegaard, Sören Aabye (1813-1855). Filósofo e teólogo dinamarquês. Estudou Filosofia e Teologia na Universidade de Copenhague e desde 1841 viveu na Alemanha. Concluiu os estudos de teologia com a apresentação de uma tese sobre o conceito de ironia (“Sobre o conceito de ironia, principalmente em Sócrates”). Com a morte de alguns familiares, dedicou-se à religião. Em 1837 conheceu o seu grande e único amor, Regina Olsen, de apenas 14 anos. Em 1840, ficaram noivos, e desfeito no ano seguinte. O resultado dessa experiência amorosa levou Kierkegaard a adotar hábitos monásticos que perduraram por toda a sua vida.
3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Kierkegaard continua, sob outro ângulo, a reação iniciada por Schopenhauer contra o sistema hegeliano. Acha que a realidade é o individual, e isto é inapreensível pelas abstrações racionalistas da filosofia.
Kierkegaard é apontado como o precursor do existencialismo moderno. Todos os filósofos que deram destaque ao indivíduo e à existência são devedores, em maior ou menor grau, dele.
Kierkegaard foi marcado por desilusões pessoais e familiares e, principalmente, pelo rompimento de seu noivado com Regina. Isso o fez um homem voltado para o pessoal, o existencial, contrapondo-se ao impessoal, o geral. Nesse sentido, combateu a metafísica de Hegel, que era abstrata e procurava o universal, defendendo a necessidade de uma “filosofia existencial”, a do ser humano concreto, daquele que vive intensamente o aqui e o agora.
Em Kierkegaard há dois tipos de existencialismo: o humanista e o cristão. Os filósofos posteriores a Kierkegaard preferiram aceitar apenas o humanista. Deixaram de lado o existencialismo cristão, retomado muito tempo depois por Gabriel Marcel.
4. OBRAS DE KIERKEGAARD
Entre suas obras destacam-se: O conceito de ironia (1841); Aut-Aut, de que faz parte o Diário de um sedutor (1842); Tremor e terror (1843); A repetição (1843); Migalhas filosóficas (1844); O conceito de angústia (1844); Prefácio (1844); Estádios no caminho da vida (1845); O ponto de vista sobre a minha atividade de escritor (póstuma, mas escrita entre 1846 e 1847); A doença mortal (1849).
5. KIERKEGAARD E PASCAL
Tanto em Kierkegaard quanto em Pascal, o saber filosófico dá passagem à vida religiosa. A divergência entre eles: Pascal optou por uma atitude contemplativa; Kierkegaard, não. Para ele, o cristianismo autêntico, aquele que Cristo pregou, é “escândalo e loucura”. Por isso, a sua crítica à fé acomodada que se refugia nas organizações religiosas. A sua religiosidade vivida incluía o pecado como consciência de si. Diz que Adão só pôde conhecer a sua condição finita quando se rebelou contra Deus. Antes disso, era inocente e ignorava a sua própria condição.
6. LIBERDADE E ANGÚSTIA
Em suas lucubrações, a fé induz ao pavor, porque além de não contar com o apoio da razão, exige que o ser humano vá além dela e caia no absurdo. Como se explica? Para ele, a existência é sempre liberdade, ou seja, possibilidades que se apresentam diante do indivíduo, e que tem de escolher. A escolha, porém, conduz o sujeito à angústia. Ele diz: “a angústia é a realidade da liberdade quanto à possibilidade”, que entre todas as possibilidades que se abrem diante do ser humano encontra-se também a do nada. A angústia nada mais é do que a “vertigem da liberdade”. (1)
7. OS TRÊS ESTADOS DA VIDA
A passagem da ignorância à inocência, da inocência ao pecado, realiza-se em três níveis de consciência: 1) estético, no qual o indivíduo busca a felicidade no prazer, cuja fugacidade entretanto leva ao desespero inevitável; 2) ético, em que procura alcançar a felicidade pelo cumprimento do dever, sendo no entanto condenado ao eterno arrependimento por suas faltas; 3) religioso, em que o homem busca Deus, entretanto a verdadeira fé é angústia da distância de Deus. (1)
8. SALVAÇÃO
Para Kierkegaard, reportando-se ao exemplo bíblico do sacrifício de Isaac por parte de seu pai, Abraão, a fé que coloca a salvação da própria alma acima de qualquer outra coisa, tem em seu bojo um componente psicológico egoístico. Para ele, na fé o máximo amor de si mesmo convive com o máximo temor de Deus. É um paradoxo, mas a fé e isso mesmo, um paradoxo. (2)
9. FRASES DE KIERKEGAARD
"Ousar é perder o equilíbrio momentaneamente. Não ousar é perder-se.";
"Sofrer, é só uma vez; vencer, é para a eternidade.";
"A porta da felicidade abre só para o exterior; quem a força em sentido
contrário acaba por fechá-la ainda mais.";
"A vida só se compreende mediante um retorno ao passado, mas só se vive
para diante.";
"Não há nada em que paire tanta sedução e maldição como num segredo.";
"A função da oração não é influenciar Deus, mas especialmente mudar a
natureza daquele que ora.";
"A fé é a mais elevada paixão de todos os homens.";
"O indivíduo, na sua angústia de não ser culpado mas de passar por sê-lo,
torna-se culpado.";
"O povo pede o poder da palavra para compensar o poder de livre
pensamento a que ele foge.";
"Acima de tudo, não perca seu desejo de prosseguir."
10. NOTAS SOBRE SUAS OBRAS
Em Ou isso ou aquilo (1843), Kierkegaard compara o estilo de vida estético e ético. O primeiro tem a ver com o prazer imediato - seja ele sensorial, físico ou intelectual -, ao passo que o último baseia-se nos princípios morais e no além. Quando os indivíduos entenderem que o caminho estético conduz apenas à ansiedade e à desesperança, irão optar, diz ele, pelo caminho ético.
Em Temor e tremor (1843), ele explica que, como Deus é basicamente incognoscível, uma dose de fé é necessária para que se avance do estilo de vida ético para o terceiro deles - o religioso -, citando como exemplo o fato de Abraão ter aceitado a ordem divina para sacrificar o seu adorado filho Isaac. Essa "suspensão teológica do ético" demonstra a palavra final em termos de convicção religiosa e obediência incondicional à vontade de Deus. Kierkegaard estava sozinho na missão de "reintroduzir o cristianismo na cristandade".
É em Migalhas filosóficas (1844) e em Pós-escrito conclusivo não científico às "Migalhas filosóficas" (1846) que Kierkegaard deixa claro seu desafio à noção hegeliana de uma "ciência do espírito". Para ele, "a objetividade é a verdade", em contraste com a ideia de Hegel de que "o que é racional é real". (3)
11. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
(1) TEMÁTICA BARSA. Rio de Janeiro, Barsa Planeta, 2005. (Volume de Filosofia)
(2) NICOLA, Ubaldo. Antologia Ilustrada de Filosofia: das Origens à Idade Moderna. Tradução de Margherita De Luca. São Paulo: Globo, 2005.
(3) LEVENE, Lesley. Penso, Logo Existo: Tudo o que Você Precisa Saber sobre Filosofia. Tradução de Debora Fleck. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013.
São Paulo, julho de 2013.
Copyright © 2010 por Sérgio Biagi Gregório
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