Curso de Aprofundamento Doutrinário
Temas de Filosofia - Perguntas e Respostas

Alternativas da Humanidade com Relação ao Mundo Espiritual

Aparência e Realidade

Aristocracias

Conhecimento de Si Mesmo

Consciência e conhecimento

Dor e Sofrimento

Evolução e Espiritismo

Fé e Razão

Felicidade

Filosofia Cristã e Espiritismo

Iluminismo

Justiça e Igualdade

Justiça e Verdade

Lei de Adoração

Lei Humana e Lei Divina

Lei de Justiça, Amor e Caridade

Lei de Liberdade

Lei Divina ou Natural

Maquiavel

Marxismo e Espiritismo

Matéria

Metafísica

Mito

Pensamento e Fisiologia do Pensamento

Pergunta e Pergunta Filosófica

Religiões Universais

Símbolo

Tempo

Virtudes Cardeais

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As Alternativas da Humanidade com Relação ao Mundo Espiritual

1. Como os filósofos da antiguidade viam o destino da alma?

Anaxímenes dizia que a alma seria uma espécie de ar, fino e rarefeito, que sobreviveria ao ar mais grosso; Pitágoras falava que o destino da alma era determinado pela vida neste; Heráclito afirmava que alma era semelhante ao fogo fino e rarefeito; Empédocles falava em entrar em outro e continuar a viver; Demócrito expressava-se em termos dos átomos-alma, que também passavam de um corpo para outro; Platão enfatizava que alma deveria libertar-se do corpo, a fim de poder ver claramente a verdade; Para Aristóteles, a imortalidade da alma é impossível. A única parte da alma que sobrevive à morte faz verdadeiramente parte de Deus, e a Ele volta. (Frost jr., cap. VI)

2. O que é e como podemos expressar a Cosmovisão?

Cosmovisão significa visão ou concepção geral de mundo. Pode ser vista sob três aspectos: materialista, espiritualista (religioso) e idealista. Essas diversas visões representam um anelo de saber integral, a apreensão da totalidade e a solução de problemas do sentido do mundo e da vida.

3. Como um pensador chega a uma determinada cosmovisão?

Refletindo sobre os diversos tipos de visão de mundo existentes, ele começa a organizar o seu sistema de ideias. Daí, o niilismo, o panteísmo e o espiritualismo.

4. O que expressa o niilismo?

O Niilismo vem do latim nihil, nada, e significa ausência de toda a crença. Como a matéria é a única fonte do ser, a morte é considerada o fim de tudo. Os adeptos do materialismo incentivam o gozo dos bens materiais. A conseqüência é a corrida em busca dos prazeres materiais.

5. O que significa o panteísmo?

O Panteísmo vem do grego pan, o todo, e Theos, Deus, e significa absorção no todo. De acordo com essa doutrina, o Espírito, ao encarnar, é extraído do todo universal; individualiza-se em cada ser durante a vida e volta, por efeito da morte, à massa comum. As conseqüências morais dessa doutrina são semelhantes às do materialismo, pois ir para o todo, sem individualidade e sem consciência de si, é como não existir.

6. O que podemos extrair do dogmatismo religioso?

O Dogmatismo Religioso afirma que a alma, independente da matéria, é criada por ocasião do nascimento do ser; sobrevive e conserva a individualidade após a morte. A sua sorte já está determinada: os que morreram em "pecado" irão para o fogo eterno; os justos, para o céu, gozar as delícias do paraíso. Essa visão deixa sem respostas uma série de anomalias que acompanham a humanidade, como, por exemplo, os aleijões e a idiotia.

7. Qual é a Cosmovisão espírita?

O Espiritismo mostra-nos que o Espírito, independente da matéria, foi criado simples e ignorante. Todos partiram do mesmo ponto, sujeitos à lei do progresso. O Espírito progride no estado corporal e no estado espiritual. O estado corpóreo é necessário ao Espírito, até que haja galgado certo grau de perfeição. Desta forma, o estado ditoso ou inditoso dos Espíritos é inerente ao adiantamento moral deles.

8. O que distingue a concepção espírita das demais com relação à vida futura?

A distinção está na individualidade da alma. Para o panteísmo, somos absorvidos no todo, sem individualidade; para a dogmática religiosa, vamos para um céu ou inferno e não existiremos mais. Para o Espiritismo, vamos sofrer ou gozar as consequências de nossos atos terrestres, mas com consciência de progresso, realizado pelo esforço pessoal.

Fonte de Consulta

FROST JR., S. E. Ensinamentos Básicos dos Grandes Filósofos. Tradução de Leônidas Gontijo de Carvalho. São Paulo: Cultrix, sdp

KARDEC, A. Obras Póstumas. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1975.

São Paulo, setembro de 2009

 

 


Aparência e Realidade

Sérgio Biagi Gregório

1) Quais os dois significados da aparência na história da filosofia?

Na história da filosofia, a aparência teve dois significados diametralmente opostos: 1) ocultação da realidade; 2) manifestação ou revelação da realidade. No primeiro caso, a aparência vela ou esconde a realidade das coisas. É preciso transpô-la; no segundo caso, a aparência é o que manifesta ou revela a realidade, de tal modo que este encontra na aparência a sua verdade, a sua revelação. No primeiro caso, conhecer significa libertar-se das aparências (Sócrates e Platão); no segundo, conhecer é confiar na aparência, deixá-la aparecer. (Abbagnano, 1970)

2) O termo aparência ainda é empregado pela filosofia?

Não. Em metafísica, depois de Kant, o termo aparência caiu em desuso. Em seu lugar deve-se usar fenômeno.(Durozói, 1993) O termo aparência hoje em dia conserva um sentido psicológico, ou seja, toda a representação, ou melhor, toda a presentação que se considere diferente do objeto que lhe corresponde. O termo antitético é realidade. (GEPB)

3) O que se entende por realidade?

O adjetivo real concerne às coisas e qualifica o que é dado, o que existe efetivamente. Indica, assim, o modo de ser das coisas existentes fora da mente humana ou independentemente dela. Consequentemente opõe-se por um lado ao que é aparente e ilusório, e, por outro lado, ao que é abstrato. (Abbagnano, 1970)

4) Aquilo que vemos é realmente o que vemos?

Esta questão remete-nos ao próprio pensar do ser humano. Podemos simplesmente absorver uma informação (de modo passivo) ou, ao contrário, indagar se ela tem fundamento, se condiz com a verdade dos fatos. O nosso procedimento, como seres racionais, é o de questionar se a informação recebida tem um fundo de verdade. João, em seu Evangelho, já nos alertava para não acreditarmos em todos os espíritos. Antes disso, deveríamos verificar se eles são de Deus, ou se são mistificadores. Em outras palavras, desconfiemos das aparências.

5) Como penetrar o nosso olhar além das aparências das coisas?

A dúvida metódica de Descartes muito nos auxilia nesta questão. Descartes analisa o conhecimento vigente e conclui que nada se lhe oferece, de modo indubitável, sobre o que possa fundamentar o seu trabalho. Tem que buscar alguma coisa fora da tradição, uma idéia, uma única que seja, mas que resista a todas as dúvidas. Ele coloca uma dúvida, não para simplesmente duvidar, mas para extrair da sua dúvida a verdade. Aristóteles, por outro lado, dizia: "... o que é diferente de alguma coisa é sempre diferente por qualquer coisa, e tanto assim que deve necessariamente haver algo de idêntico, pelo que são diferentes". (Metafísica, 1054b, 25 segs.) Parte-se, muitas vezes, do conhecido para o desconhecido.

6) Que subsídios podemos extrair da Psicologia?

A Psicologia oferece-nos o termo "apercepção tendenciosa", enfatizando que não apreendemos o mundo segundo um dado objetivo. O nosso psiquismo procede por seleção. Retém certos acontecimentos, esquece ou recusa outros e deforma aqueles que apenas lhe convém em parte.

Para exemplificar, vejamos alguns tipos de distorções perceptivas:

1) estereotipagem - É o processo de usar uma impressão padronizada de um grupo de pessoas para influenciar a nossa percepção de um indivíduo em particular. Estigma.

2) efeito halo - Consiste em deixar que uma característica de um indivíduo ou grupo encubra todas as demais características daquele indivíduo ou grupo.

3) expectativas - Consiste em "vermos" e "ouvirmos" o que esperamos ver e ouvir e não o que realmente está acontecendo. (Bowditch, 1992, p. 62 a 76)

7) Questões para serem respondidas em casa.

a) Possuímos um sexto sentido, que vai além do fato observado?

b) Uma hipotética sala de estudo, dentro de um Centro Espírita, pode ser considerada como se fosse um campo florido?

c) Há aparência para o subconsciente, ou tudo para ele é realidade?

d) Temos o hábito de indagar sobre o status quo estabelecido?

Bibliografia Consultada

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.

BOWDITCH, J. L. e BUONO, A. F. Elementos de Comportamento Organizacional. São Paulo, Pioneira, 1992.

DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.

GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.]

São Paulo, novembro de 2008

 

Aristocracias

Sérgio Biagi Gregório

1) Quais são as formas de governo?

As formas de governo podem ser resumidas em três: 1) de um só; 2) de poucos; 3) de todos. Aristóteles (384-322) estabeleceu a classificação ainda hoje adotada das formas de governo: a monarquia, em que o poder se concentra em uma pessoa; a aristocracia, em que o poder se concentra num grupo de pessoas; a democracia, em que o povo exerce o poder através de representantes eleitos. Essas formas variaram muito através dos tempos, passando pela ditadura, pelo absolutismo, pelo poder do exército etc. Cada uma dessas formas pode se degenerar: a monarquia, em tirania, a aristocracia, em timocracia e a democracia, em demagogia.

2) Qual o conceito de poder?

Poder – Do latim potere é, literalmente, o direito de deliberar, agir e mandar e também, dependendo do contexto, a faculdade de exercer a autoridade, a soberania, ou o império de dada circunstância ou a posse do domínio, da influência ou da força.

A sociologia define poder, geralmente, como a habilidade de impor a sua vontade sobre os outros, mesmo se estes resistirem de alguma maneira. Existem, dentro do contexto sociológico, diversos tipos de poder: o poder social, o poder econômico, o poder militar, o poder político, entre outros.

Para Hobbes, o poder é algo que "se baseia nos meios para obter uma vantagem"; para Russel, "o conjunto de meios que permitem obter efeitos desejados".

3) Como se define a aristocracia?

Aristocracia - Do grego aristos (melhor) e kratos (poder), "governo dos melhores". Segundo Platão, os melhores para governar eram os filósofos, pois eram os mais sábios e tinham mais capacidade de dirigir uma nação. Isto não implicava a ideia de transmissão hereditária de privilégios sociais que prevaleceu em seguida.

4) Como resumir historicamente a autoridade?

Na antiguidade, a autoridade era exercida pelos chefes de família, ou seja, pelos patriarcas. Com o aumento populacional e a complexidade das sociedades, foi preciso substituir os chefes de família pelos homens fortes, o exército. O poder militar juntou-se ao poder eclesial, criando, na Idade Média, a autoridade de Nascença. Depois vieram a influência do dinheiro e da inteligência, que perduram na época atual.

5) Por que Allan Kardec retoma esse tema em Obras Póstumas?

Ele quer nos mostrar que a inteligência é neutra e nem sempre conduz os homens aos melhores resultados. Acha que a inteligência deve ter uma direção, direção esta dada pela moral. Por isso, o termo aristocracia intelecto-moral.

6) Como entender a dinâmica da aristocracia intelecto-moral?

É ela que conduzirá o homem ao reino do bem na Terra, pois fará com que os detentores do poder baseiem as suas decisões apenas no bem comum e não nos seus interesses pessoais, como sói ainda acontecer presentemente. Allan Kardec diz-nos que todas as aristocracias tiveram a sua razão de ser e atenderam a uma necessidade peremptória da população. Porém, nenhuma delas teve por base o princípio moral; "só este princípio pode constituir uma supremacia durável, porque terá de animá-lo sentimentos de justiça e caridade".

7) As falcatruas políticas que sempre houve, e ainda há, não impedirão a implantação desta aristocracia intelecto-moral?

Segundo Allan Kardec, não. De acordo com os seus pressupostos, o bem deverá suplantar o mal. Os homens de bem não fazem alarde de suas obras; os maus, sim. Dia virá em que, por força da inexorabilidade do progresso, os homens que ocuparão os postos de comando serão os mais inteligentes e os mais moralizados.

8) Qual a influência do Espiritismo para a concretização deste tipo de aristocracia?

O Espiritismo é uma doutrina que trabalha com a razão; ele reclama a discussão e a luz. "Em vez da fé cega, que aniquila a liberdade de pensar, diz ele: Não há fé inabalável, senão a que possa encarar, face a face a razão, em todas as épocas da Humanidade. A fé necessita de base e esta base consiste na inteligência perfeita daquilo em que se haja de crer. Para crer, não basta ver, é, sobretudo, preciso compreender". Nesse caso, podemos apontar o Espiritismo como um dos principais precursores da aristocracia do futuro, a aristocracia intelecto-moral.

Fonte de Consulta

KARDEC, A. Obras Póstumas. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1975, capítulo sobre Aristocracias, p. 239 a 245.

São Paulo, julho de 2009.

 

Conhecimento de Si Mesmo

Sérgio Biagi Gregório

1) O que significa a palavra conhecer? E conhecimento de si?

Conhecimento. Diz-se da relação entre o sujeito e o objeto. O sujeito é o conhecedor e o objeto o conhecido. Daí, o problema que vem desde a antiguidade: "Em que medida aquilo que os homens se representam se assemelha àquilo que é, independentemente dessa representação?"

Conhecimento de si. É uma espécie de reflexão, ou seja, a volta do sujeito para dentro dele mesmo no afã de descobrir-se. Em termos técnicos, pode-se dizer: "O saber objetivo, isto é, não imediato nem privilegiado, que o homem pode adquirir de si mesmo". (Abbagnano, 1970)

2) Qual a origem do dístico "conhece-te a ti mesmo"?

Este dístico estava colocado no frontispício do oráculo de Delfos. Todos viam a sua inscrição, mas foi Sócrates quem pode vislumbrar o seu alcance filosófico, como demonstra o diálogo abaixo:

II

— Dize-me Eutidemo, estivestes alguma vez em Delfos?

— Duas vezes, por Zeus!

— Viste, então, a inscrição gravada no templo: conhece-te a ti mesmo?

— Sim, certamente.

— Esta inscrição não te despertou nenhum interesse, ou, ao contrário, notaste-a e procuraste examinar quem tu és?

— Não, por Zeus! Dado que julgava sabê-lo perfeitamente: pois teria sido difícil para eu aprender outra coisa caso me ignorasse a mim mesmo.

— Então pensas que para conhecer quem somos, basta sabermos o nosso nome, ou que, à maneira dos compradores de cavalo que não crêem conhecer o animal que querem comprar antes de haver examinado se é obediente, teimoso...

— Parece-me, de acordo com o que acabas de dizer-me, que não conhecer o próprio valor equivale a se ignorar a si mesmo.

— Os que se conhecem sabem o que lhes é útil e distinguem o que podem fazer daquilo que não podem: ora, fazendo aquilo de que são capazes, adquirem o necessário e vivem felizes; abstendo-se daquilo que está acima de suas forças não cometem faltas e evitam o mau êxito; enfim, como são mais capazes de julgar os outros homens, podem, graças ao partido que daí tiram, conquistar grandes bens e livrar-se de grandes males... Contrariamente, caem nas desgraças. (Xenofonte, Memoráveis, IV, II, 26.) (Sauvage, 1959)

3) Como se passou do grego (gnôthi seauton) para o latim (nosce te ipsum)?

O enfoque grego tinha por objetivo a volta do sujeito sobre si mesmo. Sócrates falava, inclusive, de tomar consciência da sua ignorância. Conhece-te a ti próprio. Quando esta palavra foi traduzida para o latim, ela tomou um cunho moralista, ou seja, um modo de se aperfeiçoar moralmente, desviando-se do seu sentido inicial.

4) Conhecimento de si e autoconsciência são a mesma coisa?

Não. Conhecimento de si é o saber objetivo, isto é, não imediato nem privilegiado, que o homem pode adquirir de si mesmo. Esse termo tem, portanto, um significado diferente de autoconsciência, que é a consciência absoluta ou infinita, e também de consciência, que sempre implica uma relação imediata e privilegiada do homem consigo mesmo. (Abbagnano, 1970)

5) No que se fundamenta o autoconhecimento? Como se conhecer?

O autoconhecimento fundamenta-se na concepção serena e imparcial que cada um faz de si mesmo. Nada de defesa, nada de privilégios. É uma espécie de exercício de aplicar a si o que deseja para os outros.

Podemos nos conhecer pela dor, pelo convívio com o próximo e pela auto-análise. A auto-análise, por exemplo, fundamenta-se numa cosmovisão transcendental da vida. A compreensão integral do homem se apóia em três esteios fundamentais: filosófico: paz com a verdade; o psicológico: paz consigo mesmo; religioso: paz com o ser transcendental.

6) Quais são as instruções de Santo Agostinho?

Todas as noites, antes de dormirmos, deveríamos revisar o dia para vermos como procedemos com os nossos pensamentos, palavras e atos. (Kardec, 1995)

7) Até que ponto você se conhece?

Incomodam-lhe excessivamente certos ruídos – o tique-taque do relógio, o ruído da máquina de costura...?

Quando solitário, em algum lugar, sente depressão ou tristeza?

É capaz de deixar que lhe expliquem um assunto demorado sem interromper quem fala e sem perder a paciência?

Entra, às vezes, atropeladamente em bondes, ônibus, cinemas, teatros, elevadores?

Sente preguiça de lavar-se, pentear-se, cortar o cabelo, enfeitar-se etc.

Se quebra um objeto de pouco valor, sente-se desgostoso?

Bibliografia Consultada

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995, perguntas 919 e 919A.

SAUVAGE, M. Sócrates e a Consciência do Homem. São Paulo, Agir, 1959.

Out/2007

 

Consciência e Conhecimento

1) O que significa a palavra conhecimento?

Conhecer é uma atividade mental por meio da qual o ser humano se apropria do mundo ao seu redor.

2) Qual o significado de consciência?

Consciência é um saber concomitante. É o saber de uma coisa que acompanha outra sendo esta principal que se produz ao mesmo tempo; simultâneo. Por analogia, dualidade ou multiplicidade de saberes ou de aspectos num mesmo e único ato de conhecimento.

3) Relacione consciência e conhecimento

A consciência pressupõe conhecimento e conhecimento pressupõe consciência. Conhecer é ter consciência de alguma coisa. "Ter consciência de qualquer coisa, ser dela consciente e conhecê-la é identicamente a mesma coisa". Em todo ato de conhecimento, por mais simples e elementar, está presente, ao menos implicitamente, a reflexão (consciência do eu), que opõe um sujeito a um objeto. O sujeito deve transcender no objeto, mas não se perder a si mesmo.

4) Há diferenças substanciais entre consciência mítica e consciência racional?

De acordo com os estudos filosóficos, na antiguidade, os homens procuravam explicar a origem e fim do mundo através de um mito. A filosofia surgiu como um despertar do logos, mas não deixou imediatamente o mito. Procurou dar ao mito uma explicação racional. Daí, a consciência racional. No mito, há um conhecimento sagrado; no logos, o sagrado pode ser explicado pela razão humana.

5) Por que o ser humano deseja conhecer?

O desejo de conhecer pertence à Lei Natural. A lei do progresso é inexorável. Quer queiramos ou não, somos obrigados a progredir. Nesse caso, não viemos a este mundo para estacionar, mas para incrementar novos conhecimentos aos já adquiridos no passado.

6) Como o Espírito André Luiz situa a consciência?

O Espírito André Luiz, no Mundo Maior, analisa o cérebro como se fosse um edifício de três andares: no primeiro andar está localizado o subconsciente; no segundo, o consciente; no terceiro, o superconsciente. O subconsciente é a "residência de nossos impulsos automáticos". O consciente é o "domínio das conquistas atuais". O superconsciente é a "casa das noções superiores". Para que nossa mente prossiga na direção do alto, é indispensável o equilíbrio destas três zonas de nosso cérebro.

7) O que é o conhecimento espírita?

O conhecimento espírita é o conhecimento transmitido pelos Espíritos, principalmente aqueles que estão arrolados nas obras básicas. A evolução é lei para todas as criaturas, mas o Espiritismo intervém no plano da consciência, ditando normas de conduta que servem para toda a vida. O Espiritismo dá ao conhecimento um verniz especial, aquele verniz trazido pelo mestre Jesus.

8) O conhecimento é exposto como uma relação entre sujeito e objeto. Explique.

O conhecimento é a relação que existe entre o "observador" e a "coisa observada". A realidade é o que é. Ela não é falsa nem verdadeira. Verdadeiros ou falsos são os nossos juízos acerca da mesma. Se a imagem que fazemos de um objeto coincide com o que ele é, estamos de posse da verdade; se, ao contrário, houve um viés, estamos em erro. Assim sendo, é muito mais importante a imagem que fazemos do objeto do que ele próprio.

9) Conhecimento de si é sinônimo de autoconsciência?

Autoconsciência é a consciência que tem de si um princípio infinito, condição de toda realidade. Não tem nada a ver com o conhecimento de si, que designa o conhecimento mediato que o homem tem de si como um ente finito entre os outros.

10) Quais são as penas e as satisfações da consciência?

De acordo com os pressupostos espíritas, Deus nos deu o livre-arbítrio para regular as nossas ações. Quando enveredamos para o mal, a consciência nos acusa. Ela nos mostra que, continuando nessa direção, sofreremos mais adiante. Nesse caso, o remorso é um estado de alma que nos mostra o quanto devemos nos humilhar junto àqueles que fizermos sofrer. Mas, uma vez praticado o bem, sentimos uma imensa satisfação interior, um júbilo do Espírito que nenhuma fortuna pode pagar.

11) O que você tem a falar sobre a consciência desperta?

O ser, criado simples e inocente, procede a uma lenta e laboriosa caminhada evolutiva. Chega um momento em sua existência que percebe que os seus gestos e atitudes, para com os outros, criam nos outros atitudes e gestos semelhantes para com ele.

"Incorporando a responsabilidade, a consciência vibra desperta e, pela consciência desperta, os princípios de ação e reação funcionam, exatos, dentro do próprio ser, assegurando-lhe a liberdade de escolha e impondo-lhe, mecanicamente, os resultados respectivos, tanto na esfera física quanto no mundo espiritual". (Capitulo XI, de Evolução em Dois Mundos, de André Luiz)

5/1/2010

 

Dor e Sofrimento

1) O que é a dor? E o sofrimento?

Dor. Em sentido geral é a sensação desagradável e penosa, resultante de uma lesão, contusão, ferimento ou funcionamento anômalo de um órgão. Sofrimento. Sentimentos de tristeza, mágoa, aflição, pesar, que podem repercutir de maneira mais ou menos intensa sobre o organismo, causando mal-estar.

2) Situe historicamente a dor e o sofrimento.

Na antiguidade, os papiros do Egito e os documentos da Pérsia descreviam a ocorrência da dor e o desenvolvimento de medidas para o seu controle. Como naquela época a dor era atribuída aos maus espíritos, a Medicina era exercida pelos sacerdotes, que empregavam remédios naturais, sacrifício e prece para aliviar a dor. Os primeiros instrumentos analgésicos vieram da observação dos animais, que se banhavam em barro para proteger-se das picadas dos insetos e comiam plantas para se purgar.

3) Como a dor é vista pela medicina?

De acordo com a Medicina, a dor tem duas características importantes: a) fenômeno dual, em que de um lado está a percepção da sensação e, do outro, a resposta emocional do paciente a ela; b) dor sentida como aguda. Nesse caso, ela pode ser passageira ou crônica (persistente). O combate à dor física é feito com diagnósticos, exames, remédios e cirurgias auxiliadas pelas modernas técnicas computadorizadas.

4) Qual o benefício da dor?

A "dor é uma benção que Deus envia aos seus eleitos". É aguilhão, forja, fornalha, lapidaria, crisol e rútila. É agente de progresso, moeda luminosa, "lixívia que saneia e embranquece a alma enodoada pelos mais hediondos crimes". É "agente de fixação, expondo-nos a verdadeira fisionomia moral". É "valioso curso de aprimoramento para todos os aprendizes da escola humana". É "o instrumento invisível que Deus utiliza para converter-nos, a pouco e pouco, em falenas de luz". É "nossa companheira – lanterna acesa em escura noite – guiando-nos, de retorno, à Casa do Pai Celestial". (1)

5) Como o sofrimento é visto pela medicina?

A dor é fisiológica; o sofrimento, psicológico. O sofrimento é um conceito mais abrangente e complexo do que a dor. Em se tratando de uma doença, é o sentimento de angústia, vulnerabilidade, perda de controle e ameaça à integridade do eu. Pode existir dor sem sofrimento e sofrimento sem dor. O sofrimento, sendo mais vasto, é existencial. Ele inclui as dimensões psíquicas, psicológicas, sociais e espirituais do ser humano. A dor influi no sofrimento e o sofrimento influi na dor.

6) Qual a razão de ser da dor e do sofrimento?

A simples reflexão sobre a dor e o sofrimento basta para evidenciar que eles têm uma razão de ser muito profunda. A dor é um alerta da natureza, que anuncia algum mal que está nos atingindo e que precisamos enfrentar. Se não fosse a dor sucumbiríamos a muitas doenças sem sequer nos dar conta do perigo. O sofrimento, mais profundo do que a simples dor sensível e que afeta toda a existência, também tem a sua razão de ser. É através dele que o homem se insere na vida mística e religiosa. Por mais real que seja a razão de um sofrimento, não basta apenas a coragem para enfrentá-lo; necessitamos também do estímulo místico, ou seja, da religião. (2)

7) Cite algumas frases sobre o sofrimento?

"O sofrimento é inerente ao estado de imperfeição, mas atenua-se com o progresso e desaparece quando o Espírito vence a matéria". "O sofrimento é um meio poderoso de educação para as Almas, pois desenvolve a sensibilidade, que já é, por si mesma, um acréscimo de vida". "O sofrimento é o misterioso operário que trabalha nas profundezas de nossa alma, e trabalha por nossa elevação". "Em todo o universo o sofrimento é sobretudo um meio educativo e purificador". "O primeiro juiz enviado por Deus é o sofrimento, que procura despertar a consciência adormecida". "É apelo à ascensão. Sem ele seria difícil acordar a consciência para a realidade superior. Aguilhão benéfico, o sofrimento evita-nos a precipitação nos despenhadeiros do mal, auxilia-nos a prosseguir entre as margens do caminho, mantendo-nos a correção necessária ao êxito do plano redentor". (1)

8) O sofrimento é castigo de Deus?

A noção de castigo está relacionada com a ofensa a Deus. Dependendo do grau da ofensa, o castigo pode ser eterno. Ao ofender a Deus, o crente sofre e, com isso, a sua vida se torna um vale de lágrimas. O Espiritismo, ao contrário, ensina-nos que todos os nossos sofrimentos estão afeitos à lei de ação e reação. Allan Kardec, no cap. V de O Evangelho Segundo o Espiritismo, trata do problema das aflições, mostrando-nos a sua justiça. Fala-nos das causas atuais e anteriores das aflições, do suicídio, do bem e mal sofrer, da perda de pessoas amadas, dos tormentos voluntários etc. Estudando pormenorizadamente este capítulo vamos aprendendo que Deus, inteligência suprema e causa primária de todas as coisas, deixa sempre uma porta aberta ao arrependimento e o ressarcimento da falta cometida.

9) O sofrimento tem cura? Como? Explique.

É da Lei Divina que o ser humano receba, em si mesmo, o que plantou, nesta ou em outras encarnações. A lei de causa e efeito nos mostra que tudo o que fizermos de errado nesta ou em outras vidas deve ser reparado. O primeiro passo é o remorso. O remorso é um estado de alma que nos faz remoer o que fizemos de errado, mostrando as nossas falhas e os nossos deslizes com relação à lei natural. O arrependimento, que vem em seguida, torna-nos mais humildes e mais obedientes a Deus. Depois de remoída e arrependida, a falta deve ser reparada, por isso o resgate. Remorso, arrependimento e resgate fecham o ciclo de uma determinada dor, de um determinado sofrimento. Embora possamos receber ajuda externa (por exemplo, de um mentor espiritual), a solução está dentro de nós mesmos, pois implica determinação na mudança de atitude e comportamento.

(1) EQUIPE DA FEB. O Espiritismo de A a Z. Rio de Janeiro: FEB, 1995.

(2) IDÍGORAS, J. L. Vocabulário Teológico para a América Latina. São Paulo: Paulinas, 1983.

10/1/2010

Evolução e Espiritismo

1) O que se entende por evolução?

Evolução significa desenvolvimento, volver para fora o que já está contido em algo. É o desenvolvimento, pela atualização das possibilidades, das potências já inclusas virtualmente em algo. É o processo das atualizações das potências dos seres.

2) Sob quais pontos de vista podemos ver a evolução?

A teoria da evolução pode ser vista sob a ótica biológica e metafísica. Do ponto de vista biológico, é a transformação das espécies vivas umas nas outras. Do ponto de vista metafísico, é o progresso do Universo, hipótese de muitas filosofias e doutrinas religiosas. Em termos da sociologia e da antropologia, a evolução está associada ao comportamento dos seres humanos e às mudanças estruturais da sociedade como um todo.

3) Baseando-nos na evolução biológica, o que diferencia o fixismo do transformismo?

O fixismo admite que as espécies não sofrem mudanças. Surgiram sobre a Terra, cada qual já adaptada ao ambiente onde foi criada. Não havendo necessidade de mudanças, as espécies permaneciam imutáveis desde o momento em que surgiram. O transformismo pressupõe que as espécies não permaneciam imutáveis, mas sofriam modificações. Esta teoria só pode ser aceita depois da vinda da Nova Ciência e do método teórico-experimental.

4) Qual a contribuição de Charles Darwin?

Charles Darwin (1809-1882), a bordo do Beagle, registrou inúmeras observações acerca da evolução das espécies. Chegou à conclusão que as espécies se transformavam através da seleção natural. Nesse caso, os indivíduos sofrem modificações espontâneas, mas sobrevivem apenas os mais aptos. Além disso, são esses indivíduos que podem se reproduzir e transmitir esses caracteres a seus descendentes.

5) Na Metafísica, o que se entende por evolucionismo?

O evolucionismo, mesmo se servindo dos resultados da teoria biológica, vai muito além. O evolucionismo foi assumido como esquema fundamental de muitas metafísicas, tanto materialistas quanto espiritualistas. A característica fundamental que essas metafísicas distinguem na evolução é o progresso. Para elas, evolução significa essencialmente progresso, e sempre otimista, ao contrário da evolução biológica, que não necessariamente é otimista. Spencer, com o seu homogêneo indiferenciado, e Bérgson, com o seu elã vital, deram as suas contribuições à compreensão do evolucionismo metafísico.

6) Em que se funda o progresso do Espírito?

Para o Espiritismo, o ponto alto da evolução do Espírito é o aparecimento do senso moral. Enquanto o princípio inteligente estagia no reino animal, o senso moral é quase nulo. Somente quando adquire a razão, o pensamento contínuo e o livre-arbítrio, na fase humana, é que começa a responder pelos seus atos. Daí, a responsabilidade de cada um pelo seu próprio progresso.

7) Qual a importância do livre-arbítrio no progresso do Espírito?

O Espiritismo mostra-nos que, no inicio da sua caminhada evolutiva, o Espírito não possui o livre-arbítrio, cuja escolha é deixada a cargo dos mensageiros do espaço. Somente quando desenvolveu o senso moral, foi capaz de responder pelos seus próprios atos. Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, diz-nos que o ser humano não é fatalmente conduzido ao mal. "Ele pode, como prova ou expiação, escolher uma existência em que se sentirá arrastado para o crime, seja pelo meio em que estiver situado, seja pelas circunstâncias supervenientes. Mas será sempre livre de agir como quiser. Assim, o livre-arbítrio existe no estado de Espírito, com a escolha da existência e das provas; e no estado corpóreo, com a faculdade de ceder ou resistir aos arrastamentos a que voluntariamente estamos submetidos". (Kardec, 1995, questão 872)

8) O progresso material e o progresso moral caminham juntos?

Allan kardec, em O Livro dos Espíritos, mostra-nos que o progresso intelectual nem sempre anda junto com o progresso moral. No longo prazo, porém, deverão equilibrar-se para que haja maior coerência das ações praticadas pelo ser humano. Nesse sentido, o Espírito Emmanuel adverte-nos que a sabedoria e amor são as duas asas que nos conduzirão ao progresso. Paralelamente, o Espírito André Luiz diz-nos que o ciclo de reencarnações somente terminará quando tivermos sedimentado as nossas ações nas máximas do Evangelho de Jesus.

9) Evoluímos somente na Terra?

Não. A lei do progresso é uma Lei Natural e, por isso, compulsória. Tanto os encarnados quanto os desencarnados estão sujeitos ao progresso, quer estejam ligados ou não ao Planeta Terra.

São Paulo, dezembro de 2010.

Fé e Razão

1) O que se entende por fé?

O termo pode ser usado de modo profano ou religioso. No sentido profano, é dar crédito a alguma coisa, a um evento, a um empreendimento. No sentido religioso, o testemunho no qual se baseia a confiança é a revelação divina.

2) O que se entende por razão?

Razão tem o significado de "bem julgar". Tem relação com o raciocínio discursivo. É conhecimento natural enquanto oposto ao conhecimento revelado, objeto da fé.

3) Como a fé a razão se apresentam historicamente?

Na Antiguidade, tínhamos a filosofia grega (razão) de um lado e o cristianismo (fé) do outro. Na Idade Média, a filosofia tornou-se ancilla theologiae ("serva da teologia"). Os medievais tentaram conciliar fé e razão. Na Idade Moderna, com a chegada do Iluminismo e o desenvolvimento das ciências, a filosofia voltou a ser independente e desgarrou-se da fé.

4) Relacione fé religiosa, fé humana e fé divina.

A fé é inata. Ela não é adquirida pelo esforço, pela inteligência, pela técnica. Crê-se porque se crê. Os desdobramentos dessa crença é que podem ser caracterizados por fé religiosa (dogmas das religiões), fé humana (crença nas próprias forças para a realização de um trabalho, de um evento) e fé divina (quando o móvel é inspiração divina).

5) Qual a influência do iluminismo?

O Iluminismo endeusou a razão. Com isso, inverteu os objetivos da humanidade. Os desdobramentos da razão deveriam levar o ser humano a Deus. Com a inversão, levaram-no à materialidade.

6) A ciência contribuiu com o quê?

A razão suspeitava de tudo. Para a comprovação dos fatos, precisava de provas, de fórmulas matemáticas. Daí, o aparecimento das diversas ciências, cujo conhecimento se tornava teórico-experimental, dando total apoio à razão.

7) Quais os dois grandes pensadores da Idade Média que quiseram unir fé e razão?

Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. Santo Agostinho demonstra claramente sua vocação filosófica na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e compreender com a razão o conteúdo da mesma. Santo Tomás consegue, por seu turno, estabelecer o perfeito equilíbrio nas relações entre a Fé e a Razão, a teologia e a filosofia, distinguindo-as mas não as separando necessariamente. Ambas, com efeito, podem tratar do mesmo objeto: Deus, por exemplo. Contudo, a filosofia utiliza as luzes da razão natural, ao passo que a teologia se vale das luzes da razão divina manifestada na revelação.

8) Como a fé e a razão são vistas pelo Espiritismo?

Para o Espiritismo, Razão e Fé pertencem à essência da natureza humana. São potências que se atualizam no decurso das existências. A Razão e a Fé estão centradas no eixo, que é a Vontade. Esta, por sua vez, assenta-se no Livre-Arbítrio, princípio de liberdade, sem o qual a Razão de nada serviria e a Fé não teria sentido.

São Paulo, maio de 2010.

 

Felicidade

Sérgio Biagi Gregório

1) O que significa a palavra felicidade?

A felicidade pode ser entendida de diversas formas: como bem-estar, como atividade contemplativa, como prazer etc.

De acordo com Abbagnano, o conceito de felicidade é humano e mundano. Em geral, é um estado de satisfação devido à própria situação do mundo. Por essa relação com a situação do mundo, a noção de felicidade difere da de beatitude a qual é o ideal de uma satisfação independente da relação do homem com o mundo e por isso limitada à esfera contemplativa ou religiosa.

2) Como vê-la historicamente?

Na Antiguidade, Sócrates referia-se ao "conhece-te a ti mesmo" como sendo a chave para a conquista da felicidade. Platão dizia que a felicidade é relativa aos deveres que o homem tem no mundo. Para Aristóteles, a felicidade é a identificação com as melhores atividades do ser humano.

No âmbito do Velho Testamento, a felicidade centra-se na aquisição dos bens mais elementares como comer, beber e viver em família e no temor a Iahweh, que equivale à atitude religiosa do homem. Na dimensão do Novo Testamento, a felicidade está nas bem-aventuranças prometidas por Jesus.

Plotino (204-270) afirma que a felicidade do sábio não pode ser destruída nem pelas circunstâncias adversas nem pelas favoráveis. Santo Agostinho (354-430) entende a felicidade como o fim da sabedoria, a posse do verdadeiro absoluto, isto é, de Deus. Tomás de Aquino (1225-1274), na Suma Teológica, utilizou a palavra "beatitude" como equivalente à "felicidade" e a definiu como "um bem perfeito de natureza intelectual". Kant (1724-1804) julga que a felicidade faz parte do bem supremo o qual é para o homem a síntese de virtude e felicidade. Bentham (1748-1832) e Stuart Mill ( 1773-1836) retomaram como fundamento de moral a fórmula de Beccaria: "A maior felicidade possível, no maior número de pessoas". (Abbagnano, 1970)

3) Há relação entre felicidade e os hemisférios do cérebro?

No final do século XIX, os médicos notaram algo estranho nas pessoas com lesão cerebral. Quando o dano era do lado esquerdo do cérebro, elas tendiam a ficar mais deprimidas. Richard Davidson, da University of Wisconsin, conduz uma pesquisa para certificar-se se o sentimento de felicidade é objetivo. Em seus estudos, coloca eletrodos em partes diferentes do couro cabeludo e lendo a atividade elétrica. Essas medições de EEG são então relacionadas com os sentimentos que as pessoas relatam. Quando elas experimentam sentimentos positivos, há mais atividade elétrica na parte frontal esquerda do cérebro; quando experimentam sentimentos negativos, há mais atividade na parte frontal direita. (Layard, 2008, cap. 2)

4) Qual a diferença entre a felicidade entendida por Jeremy Bentham e aquela propagada por Aristóteles?

Para Jeremy Bentham, filósofo do Iluminismo do século XVIII, a melhor sociedade é aquela em que os cidadãos são mais felizes. Felicidade aqui é definida como sentir-se bem. Portanto, a melhor política pública é a que produz mais felicidade. E quando se trata de comportamento individual, a ação moral correta é aquela que produz mais felicidade para as pessoas que afeta. Este é o princípio da Felicidade Maior. Aristóteles, por seu turno, acreditava que o objetivo da vida era a eudemonia, um tipo de felicidade associada à conduta virtuosa e reflexão filosófica.

5) Ter mais renda, mais diversão, mais poder é ter mais felicidade?

Pelo fato de não sabermos conceber plenamente a felicidade, ela aparece mesclada de diversos desejos. Uns imaginam encontrá-la na posse das riquezas, porque supõem que com o dinheiro tudo se compra e que a felicidade é uma mercadoria como tantas outras. Outros procuram encontrá-la nos prazeres sexuais, nas diversões, nos passeios. Outros ainda na glutonaria. Em realidade, estamos confundindo posse com felicidade, prazer com felicidade, desejo atendido com felicidade. A felicidade plena e verdadeira requer a atualização das virtualidades do ser espiritual.

6) Em que a concepção de Marx, acerca da felicidade, difere da de Allan Kardec?

Para Marx, a felicidade do indivíduo estaria presa aos proventos materiais do trabalho (salários).

Para Kardec, a felicidade do indivíduo iria além dos proventos materiais do trabalho (salários), pois implica evolução espiritual. São os bônus-horas de que nos fala o Espírito André Luiz, no livro Nosso Lar.

7) Como interpretar a máxima do Eclesiastes: "A felicidade não é deste mundo"?

Pode ser entendida de duas maneiras: 1) que há outros mundos mais evoluídos do que o Planeta Terra, onde a felicidade é mais plena; 2) que a felicidade não estando no mundo material, pode ser encontrada no mundo interior, como conseqüência do dever retamente cumprido.

Bibliografia Consultada

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo, Mestre Jou, 1970.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.

LAYARD, Richard. Felicidade: Lições de uma Nova Ciência. Tradução de Maria Clara de Biase W. Fernandes. Rio de Janeiro: BestSeller, 2008.

São Paulo, janeiro de 2009

Filosofia Cristã e Espiritismo

1. O que é a filosofia?

Filosofia é a busca da sabedoria ou a tensão que caminha para este fim. Na filosofia há um esforço constante de arrancar o véu em que o conhecimento se encontra. Pode-se dizer também que a filosofia é a correção do intelecto, revisão dos comportamentos e do caráter. Em filosofia, haverá sempre uma nova forma de aprender e de atuar em sociedade.

2. O que se entende por filosofia cristã?

É a filosofia que, influenciada pelo cristianismo, predominou no Ocidente, principalmente na Europa, no período que vai do século I ao século XIV de nossa era. Apresenta-se em dois períodos distintos: o da patrística (séc. I a V); o da escolástica (séc. XI a XV).

3. Qual é o problema central da filosofia cristã?

O problema central da filosofia cristã é o de conciliar as exigências da razão com as perspectivas da fé na revelação.

4. Quem foi o protagonista da Patrística?

Santo Agostinho (354-430), influenciado por Platão, é o pensador que mais se destaca nesse período. Demonstra claramente sua vocação filosófica na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e compreender com a razão o conteúdo da mesma. Entretanto, defronta-se com um primeiro obstáculo no caminho da verdade: a dúvida cética, largamente explorada pelos acadêmicos. Como a superação dessa dúvida é condição fundamental para o estabelecimento de bases sólidas para o conhecimento racional, Santo Agostinho, antecipando o cogito cartesiano, apelará para as evidências primeiras do sujeito que existe, vive, pensa e duvida.

5. Quem é o protagonista da Escolástica?

Santo Tomás de Aquino (1221-1274), influenciado por Aristóteles, é o pensador que mais se destaca na Escolástica. Santo Tomás representa o apogeu da escolástica medieval na medida em que conseguiu estabelecer o perfeito equilíbrio nas relações entre a Fé e a Razão, a teologia e a filosofia, distinguindo-as mas não as separando necessariamente. Ambas, com efeito, podem tratar do mesmo objeto: Deus, por exemplo. Contudo, a filosofia utiliza as luzes da razão natural, ao passo que a teologia se vale das luzes da razão divina manifestada na revelação.

6. Como expressarmos, no Espiritismo, a relação entre razão e fé?

José Herculano Pires, em Introdução à Filosofia Espírita, diz que "Razão e Fé" constituem os elementos essenciais do espírito, conjugados em torno de um eixo que é a Vontade. A Vontade assenta-se no livre-arbítrio, o princípio da liberdade, sem o qual a Razão de nada serviria e a Fé não teria sentido.

7. Quais são, segundo o Espiritismo, os aspectos imanentes e transcendentes da fé?

Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, trata dos aspectos imanentes e transcendentes da fé. Observe que ele relaciona fé humana e fé divina. Na primeira, acentua o esforço do homem para a realização de seu fim; na segunda, coloca a crença humana sob a orientação dum poder superior, que supervisiona os nossos atos. Acrescenta, ainda, que a fé, sendo inata, pode manifestar-se racional ou dogmaticamente e que o Espiritismo aceita, somente, a primeira.

São Paulo, setembro de 2009

Iluminismo

1) O que se entende por iluminismo?

O iluminismo, ou filosofia das luzes, é o movimento filosófico do século XIX, que se caracteriza pela confiança no progresso e na razão, pelo desafio à tradição e à autoridade e pelo incentivo à liberdade de pensamento.

2) O iluminismo é uma ideia nova?

Não. Os compromissos por ele adotados já faziam parte da filosofia antiga, que se esmerava em criticar todo o tipo de crença e de conhecimento. Além disso, procurava usar os novos conhecimentos para os fins práticos da vida. O iluminismo moderno nada mais é do que a aplicação desses compromissos ao período que vai da Revolução inglesa de 1688 até à Revolução Francesa de 1789.

3) No que se fundamenta o iluminismo?

O iluminismo visa à emancipação do ser humano e de toda a humanidade por meio das luzes da razão. A chamada idade da razão tem por objetivo a sua própria autonomia, no sentido de vencer as trevas da superstição, da ignorância, do fanatismo e da intolerância tanto moral quanto religiosa. A razão se torna uma nova divindade.

4) De que maneira quer alcançar a felicidade e o progresso?

O iluminismo assume os pressupostos hedonistas e utilitaristas, em que a felicidade já não é mais utópica, mas encontra-se atrelada ao progresso material e moral da humanidade. Consequentemente, o seu carro chefe é a revolução industrial e o descobrimento de novas técnicas para transformar os bens naturais em bens úteis.

5) Quais países contribuíram para a disseminação do iluminismo?

Principalmente a França e a Alemanha. O iluminismo francês está centrado em Voltaire, Montesquieu e Rousseau que, apesar das diferenças de abordagem, têm dois pontos em comum: confiança na razão e repúdio à religião. O iluminismo alemão tem como lema o sapere aude kantiano, que é a saída dos homens do estado de minoridade devido a eles mesmos. A minoridade é a incapacidade de utilizar o próprio intelecto sem a orientação de outro.

6) Qual o papel das ciências na propagação do iluminismo?

A razão suspeitava de tudo. Para a comprovação dos fatos, precisava de provas. Daí, o aparecimento das diversas ciências, cujo método teórico-experimental, em todos os campos do saber, preparava a revolução industrial, a revolução da energia.

7) Que tipo de influência o iluminismo exerceu na codificação espírita?

O Espiritismo surgiu na época certa, quando as ciências já estavam desenvolvidas e o método teórico-experimental era aplicado em tudo o que se pensava saber. Se tivesse sido cogitado antes, poderia não vingar. Havia necessidade de aliar a razão à fé, ou seja, tornar a fé raciocinada.

8) Allan Kardec era um iluminista?

Antes de tudo, Allan kardec era um cientista e, como tal, tinha muito apreço pela relação causa-efeito. Não resta dúvida que recebera influência do iluminismo, pois não vivia à margem do acontecia na França. Observe a sua posição com relação aos fenômenos das mesas girantes. Enquanto o seu amigo falava que as mesas se moviam, ele aceitava tranquilamente. Foi só relatar que, além de se mover, as mesas também falavam, ele colocou em dúvida tal afirmação e foi procurar a causa, ou seja, de onde vinha aquela voz, já que uma mesa não tem cérebro.

9) Como síntese do conhecimento, o Espiritismo inclui o iluminismo?

Sim. O Espiritismo prende-se a todos os ramos da Filosofia, da Metafísica, da Psicologia e da Moral. É a síntese de todo o processo de conhecimento, desde a filosofia de Sócrates e Platão, considerados os seus precursores. É a mais completa Doutrina de consolo até hoje aparecida na face da terra. Em seu conteúdo doutrinal, toca em todos os pontos centrais de qualquer filosofia ou religião, como é o caso de Deus, do Espírito, da matéria, da sobrevivência da alma após a morte e da comunicação com os Espíritos.

São Paulo, novembro de 2009

Justiça e Igualdade

Sérgio Biagi Gregório

1) O que se entende por justiça?

A noção de justiça designa por um lado o princípio moral que exige o respeito da norma do direito e, por outro, a virtude, que consiste em respeitar os direitos dos outros. (1)

Virtude moral que faz que se dê a cada um o que lhe pertence e se respeitem os direitos alheios. (2)

É uma das quatro virtudes cardeais. Considerado de modo restrito, justiça é a constante e perpétua vontade de conceder o direito a si próprio e a outros segundo a igualdade. É uma virtude subjetiva, portanto. (3)

2) O que se entende por igualdade?

Na matemática, é a característica das quantidades substituíveis uma pela outra sem modificação. Por analogia, igualdade é a relação entre dois termos, em que um pode substituir o outro. (1)

Na ética e na política, há igualdade quando os direitos e os deveres, as prescrições e as penas são iguais para todos os cidadãos.

3) O que se entende por direitos e deveres?

Quando falamos de direitos e deveres, estamos nos referindo à acepção do direito como poder ou faculdade. A Constituição Brasileira nos diz que cada um de nós tem o direito de viver, de ser livre, de ser respeitado como pessoa etc. Cada um de nós tem o dever de lutar pelos direitos iguais para todos, de defender a pátria, de preservar a natureza etc. Ser cidadão é exercer a sua cidadania, ou seja, fazer valer os seus direitos e suas obrigações.

Exemplificando: Temos o direito de receber energia elétrica. Por outro lado, temos o dever de pagar a conta de energia.

4) Como Aristóteles analisa a relação entre justiça e igualdade?

Segundo Aristóteles, a justiça é a virtude integral e perfeita. Ela abrange todas as outras. Quanto à igualdade, distingue dois tipos: a aritmética e a geométrica. Em se tratando da igualdade aritmética, ele explica que quando alguém provoca prejuízo ao outro, deve restituí-lo do prejuízo, para que a situação volte à inicial, que era justa. Na igualdade geométrica, um bem é distribuído entre duas pessoas "de acordo com o seu valor". O princípio subjacente é este: "Uma distribuição é justa quando iguais recebem partes iguais e desiguais partes desiguais". (4)

5) Dada a dificuldade de se ter uma definição precisa da justiça, o que os filósofos propuseram?

Eles propuseram um sistema de valor recorrendo aos seguintes fins: a) felicidade; b) utilidade; c) liberdade; d) paz.

a) Para Aristóteles, o fim da justiça era a felicidade. São Tomás de Aquino, por sua vez, identificou o bem comum aristotélico com a doutrina da bem-aventurança eterna.

b) No mundo moderno, Hume disse: "A utilidade é o fim da Justiça. É propiciar a felicidade e a segurança, mantendo a ordem na natureza".

c) Kant identificou justiça e liberdade: "A tarefa suprema da natureza em relação à espécie humana" é uma sociedade em que a liberdade sob leis externas esteja unida no mais alto grau possível, a um poder irresistível, o que é uma constituição civil perfeitamente justa.

d) Hobbes introduz a paz: "É justa a ordenação que garanta a paz, afastando o homem do estado de guerra de todos contra todos, em que vivem no ‘estado natural’". (5)

6) Como analisar justiça e igualdade no âmbito da Doutrina Espírita?

O Espiritismo nos traz as ideias de justiça humana e justiça divina. A justiça humana pode ser parcial, a divina não, ela é sempre igualitária. Nesse caso, há muita justiça nas aflições, no sofrimento e nos revezes da sorte. Nada se nos acontece por acaso. De acordo com os pressupostos espíritas, quando não encontramos uma explicação presente para o nosso sofrimento, podemos buscá-la numa encarnação passada.

7) A desigualdade das condições sociais é uma lei natural?

Não. É obra do homem e não de Deus. Essa desigualdade desaparecerá juntamente com a predominância do orgulho e do egoísmo, restando tão somente a desigualdade de mérito. (6)

Mais questões:

Há diferença entre justo e justiça?

Quem foi o justo por excelência? Por quê?

 

Bibliografia Consultada

 

(1) DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993

(2) GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.]

(3) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.

(4) RICKEN, Friedo. O Bem-Viver em Comunidade: A Vida Boa Segundo Platão e Aristóteles. Tradução de Inês Antônia Lohbauer. São Paulo: Loyola, 2008.

(5) ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.

(6) KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995.

São Paulo maio de 2009

 

Justiça e Verdade

1) O que se entende por justiça?

A justiça é o bem maior da humanidade. Em seu sentido restrito, é a vontade de conceder o direito a si próprio e aos outros segundo a igualdade. Em seu sentido moral, respeitar cada um a si mesmo e ao próximo. "Dar a cada um o que é seu".

2) O que se entende por verdade?

É uma adequação entre o Sujeito (inteligência) e o Objeto (realidade). Do latim adaequatio intellectus et rei. Em sentido mais elevado, uma completa interpenetração de inteligência e ser.

3) Como é posta a justiça em Aristóteles?

Para Aristóteles, a justiça é o principal fundamento da ordem do mundo. Ela não está dissociada da polis, da cidade, ou da vida em sociedade. Ela não é adquirida nos livros ou mesmo pelo pensamento. Ela tem que ser construída na vida prática, isto é, pela obediência às leis da pólis e pelo bom relacionamento com os cidadãos.

4) Relacione justiça humana e justiça divina.

A justiça humana, através de leis estabelecidas pelas autoridades de um determinado país, julga e castiga os delitos cometidos. Uma pessoa fica reclusa por vários anos. Atendeu à lei do homem. E com relação à justiça divina? A justiça divina vê o sujeito na sua totalidade, incluindo as suas diversas encarnações. Pode-se dizer que a justiça humana pune os crimes factuais; a justiça divina, os essenciais. Nada fica incólume. Nesse caso, é possível que o sujeito tenha cumprido a sua pena na Terra, mas não o tenha saldado com relação à justiça divina, que vê o que se passa no íntimo do ser.

5) Como se adquire o conhecimento verdadeiro?

Conhecimento é o reflexo e a reprodução do objeto em nossa mente.

Conhecimento verdadeiro é aquele que reflete corretamente a realidade na mente.

Verdade é o reflexo fiel do objeto na mente, adequação do pensamento com a coisa.

É a relação entre o Sujeito cognoscente e o Objeto que precisa ser conhecido. Como depende de nosso juízo de valor, convém que estejamos sempre nos desfazendo dos dogmas e dos preconceitos, para melhor avaliar o que se nos chega à mente.

6) Como interpretar o "conhecereis a verdade e a verdade vos libertará"?

Cristo nos disse que deveríamos conhecer a verdade, que ela nos libertaria. Mas como? Ele não nos pede uma racionalização da verdade, mas uma transcendência em Deus. Transcendência esta que nos livra do erro, da mentira e do vício. Não podemos ficar presos aos "aspectos da verdade", ou às "verdades provisórias", mas à submissão do dever fielmente cumprido.

7) Tudo o que é justo é verdadeiro?

Em principio, tudo o que é justo deve também ser verdadeiro. Acontece que vivemos num mundo imperfeito. Nesse caso, podemos cometer muitas injustiças em nome da justiça, pois como determinar com exatidão o que é justo e o que é injusto? Conta-se o caso de um habitante de um mundo superior em visita ao nosso. Em suas observações, detectou: 1) uma pessoa ser presa por ter roubado um pedaço de pão para saciar a sua fome; 2) outra, que havia dizimado centenas de seres humanos em batalhas sangrentas, ser condecorada. Disse: vamos esperar mais uns 500 anos para ver como estará a justiça no Planeta Terra.

8) As aflições são justas?

Sim. Dada a limitação do nosso conhecimento, achamos que Deus é injusto, que Ele nos manda uma prova além de nossa força. Tudo isso é puro engano. Cada um de nós está no devido lugar, para a realização do seu progresso material e espiritual. Nada que se nos acontece, acontece por acaso.

9) Podemos refutar uma verdade? Ela pode ficar oculta?

Não. Os filósofos da antiguidade já nos diziam que, no justo momento em que quisermos refutar uma verdade, seremos por ela refutados. Cristo, nas suas pregações, disse: "Não há nada escondido que não venha a ser revelado, nem oculto que não venha a se tornar conhecido" (Mateus 10.16b). Daí, a certeza de que diante da verdade só nos resta aceitá-la de bom grado, seja agradável ou desagradável.

10) Cite algumas frases sobre justiça e verdade.

"Justiça e verdade são duas pontas tão finas que os nossos instrumentos são demasiadamente obtusos para nelas tocar com exatidão. Quando chegam a aproximar-se, destroem a ponta, e se apoiam em toda a volta, mais sobre o falso do que sobre o verdadeiro" (Pascal).

"Se sofreres uma injustiça, consola-te, que a verdadeira desgraça é cometê-la" (Pitágoras).

"Quem decide um caso sem ouvir a outra parte não pode ser considerado justo, ainda que decida com justiça" (Sêneca). 

"A verdade nunca é injusta; pode magoar, mas não deixa ferida" (Eduardo Girão)

"O homem é injusto, mas Deus é justo, e a justiça finalmente, triunfa" (H. L. Longfellow).

São Paulo, maio de 2010.

 

Lei de Adoração

Sérgio Biagi Gregório

1) O que significa adorar?

A palavra adorar vem do latim ad + orare e significa orar para alguém. Prostrar-se, reverenciar, inclinar-se são seus principais significados. Há também outras definições: fazer um show, ser tolo, celebrar, brilhar, usar a mão, cantar, falar em voz alta. Deduz-se que há o entendimento pejorativo e o entendimento racional. Para não confundirmos a cabeça do crente, talvez fosse importante usar a palavra REVERÊNCIA em vez de ADORAÇÃO. Em realidade é uma postura de reverência ao Criador.

2) Como ver a adoração num processo histórico?

O homem de Neanderthal, há 150.000 anos, já enterrava os mortos junto com objetos de uso diário, evidenciando crença na vida futura. Os egípcios embalsamavam os seus faraós, com a crença de a alma voltaria para o corpo. No Totemismo, há referência às forças da natureza como o mana e a orenda, bem como a instituição do tabu. Pode-se falar também do horizonte tribal (mediunismo primitivo), o horizonte agrícola (animismo), o horizonte civilizado (mediunismo oracular), o horizonte profético (mediunismo bíblico) e o horizonte espiritual (mediunidade positiva). Na própria Bíblia há muitos versículos sobre a adoração. Salmos, Apocalipse, Lucas etc.

3) Por que a lei de adoração é uma lei natural?

A lei da adoração é uma lei natural porque é o resultado do sentimento inato no homem. Encontramo-la em todos os povos, embora de forma diferente. Lembremo-nos da definição de "lei": fluir como um rio. A palavra "lei" não deve ser usada com o sentido de obrigação ou uma regra. A adoração é algo que deve fluir livre e espontaneamente de dentro de nós.

4) Que tipos de adoração temos?

Adoração exterior, adoração conjunta, adoração individual, adoração pela prece, adoração pelos sacrifícios. Há os mantras, as preces cantadas etc.

5) Como passar da adoração dogmática para a adoração racional?

Há muitos povos que se dizem científicos, civilizados, mas permanecem com os sistemas de crenças, os quais se praticavam no Totemismo. Observe o símbolo de algumas torcidas organizadas: gavião, porco, peixe etc. É preciso amar a Deus em Espírito e Verdade. Eis o exercício maior.

6) Qual o caráter geral da prece?

A prece é um ato de adoração. É uma comunicação de pensamento entre a criatura e Deus. Pela prece podemos fazer três coisas: louvar, pedir e agradecer.

7) A prece que fazemos por nós mesmos pode modificar a natureza das nossas provas e desviar-lhes o curso?

Não. O que está reservado para cada um de nós, acontecerá necessariamente. O que a prece faz é dar-nos resignação e forças para suportar a nossa provação.

8) É possível a comunicação direta com Deus?

Sim. Fazer preces a Deus é pensar nEle, aproximar dEle, pôr-se em comunicação com Ele.

9) No que se fundamentam as muletas que usamos para adorar a Deus?

Ignorância religiosa, usos e costumes, má intenção dos religiosos etc.

Nov/2007.

Lei Humana e Lei Divina

Sérgio Biagi Gregório

1) Que é uma lei?

Lei é uma norma ou conjunto de normas ditada pela autoridade estatal e tornada obrigatória para manter, numa comunidade, a ordem e o desenvolvimento.

2) O que caracteriza a lei humana?

A noção de lei depende da regra ou da necessidade. Em se tratando da regra, refere-se às emanações do poder político com vistas a reger a atividade de uma determinada sociedade. Nesse caso, dizemos que a lei é humana, portanto limitada ao conhecimento dos seres humanos numa determinada época.

3) O que caracteriza a lei divina?

A noção de lei depende da regra ou da necessidade. Em se tratando da necessidade, refere-se à invariabilidade, ou seja, não suporta exceção, sendo uma lei que deriva da natureza das coisas. Nesse caso, dizemos que são leis divinas ou naturais.

4) Quais são as doutrinas concernentes à Lei Natural?

Há, pelo menos, quatro doutrinas: 1) Lei como imanente – a ordem da natureza expressa os caracteres das coisas reais, as quais, conjuntamente, compõem as existências encontradas na natureza; 2) Lei como imposta – uma existência necessita estar relacionada com outras existências; 3) Lei como ordem observada de sucessões – basta apenas observar e descrever os padrões de identidade da natureza; 4) Lei como interpretação convencional – além da descrição, devemos estudar os fatos e inferir novas leis. (1)

5) A sociedade poderia ser regida somente pelas leis naturais, sem o recurso das leis humanas?

Poderia, se todos as compreendessem bem. Se os homens as quisessem praticar, elas bastariam. A sociedade, porém, tem suas exigências. São-lhe necessárias leis especiais. (2)

6) Qual a causa da instabilidade das leis humanas?

Nas épocas de barbárie, são os mais fortes que fazem as leis e eles as fizeram para si. À proporção que os homens foram compreendendo melhor a justiça, indispensável se tornou a modificação delas. Quanto mais se aproximam da verdadeira justiça, tanto menos instáveis são as leis humanas, isto é, tanto mais estáveis se vão tornando, conforme vão sendo feitas para todos e se identificam com a lei natural. (2)

7) Como se explica a desproporção entre a lei humana e a lei natural?

A civilização criou necessidades novas para o homem, necessidades relativas à posição social que ele ocupe. Tem-se então que regular, por meio de leis humanas, os direitos e deveres dessa posição. Mas, influenciado pelas suas paixões, ele não raro há criado direitos e deveres imaginários, que a lei natural e que os povos riscam de seus códigos à medida que progridem. A lei natural é imutável e a mesma para todos; a lei humana é variável e progressiva. Na infância das sociedades, só esta pode consagrar o direito do mais forte. (2)

8) Na época de Moisés, como distinguir a lei divina da lei humana?

Há duas partes distintas na lei mosaica: 1) a promulgada no monte Sinai; 2) a lei civil ou disciplinar estabelecida por Moisés. A Lei de Deus é invariável; a outra, apropriada ao caráter e aos costumes daquele povo. Como Moisés queria controlar o povo, disse-lhes que a lei civil tinha caráter divino. Mas, hoje notamos bem a diferença entre uma lei e outra. O "olho por olho e dente por dente", por exemplo, não pode fazer parte da natureza, da lei de Deus. (3)

9) Jesus veio para destruir a lei?

Jesus não veio para destruir a lei de Deus, mas modificar as leis de Moisés. E o que fez? Combateu não somente os excessos de justiça de Moisés como também os abusos das práticas externas. (3)

10) A lei humana alcança todas as faltas?

Não. A lei humana alcança certas faltas e as pune. Mas e as faltas que não são punidas nesta vida? Certamente ficarão para uma próxima encarnação. É o caso de muitos sofrerem injustamente nesta encarnação ou serem presos sem culpa. E se voltarmos a uma encarnação passada que ficou sem punição? Não teríamos uma resposta mais aceitável?

Fonte de Consulta

(1) WHITEHEAD, A. F. Adventures of Ideas. Cambridge, University Press, 1942.

(2) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, perguntas 794 a 797.

(3) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo I.

Abril de 2009

 

Lei de Justiça, Amor e Caridade

Sérgio Biagi Gregório

1) O que se entende por justiça?

A justiça é um princípio moral que exige o respeito ao direito de si próprio e ao dos outros, segundo a equidade. Por direito, entende-se aquilo que é conforme uma regra precisa ou àquilo que é permitido. Por equidade, entende-se o tratar todos com igualdade, ou seja, da mesma maneira seres que, além de suas diferenças acidentais, podem ser considerados como essencialmente parecidos. Pode-se falar, também, de um sentimento de verdade, de equidade, de humanidade, colocado acima das paixões humanas.

2) Qual o conceito de amor?

Sentimento interior que nos remete a um objeto, considerado bom. Em se tratando de pessoa, é uma força tendente a aproximar e a unir, numa relação particular, dois ou mais seres. Exemplo: "amor ao próximo"; "amor fraternal".

3) Qual o conceito de caridade?

Da mesma raiz de amor (caritas), é uma virtude cristã fundamental que move a vontade à busca efetiva do bem de outrem e procura identificar-se com o amor de Deus. A máxima empregada é: "Ama o próximo como ti mesmo". Paulo foi quem mais insistiu na superioridade da caridade em relação às outras virtudes cristãs, quais sejam a fé e a esperança. Assim se expressava: "Agora, essas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade permanecem; mas, entre elas, a mais excelente é a caridade". (Paulo, 1.ª Epístolas aos Coríntios, 13, 1 a 7 e 13). Para ele, "A caridade é paciente; é doce e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária e precipitada; não se enche de orgulho; não é desdenhosa; não procura os seus próprios interesses; não se melindra e não se irrita com nada; não suspeita mal; não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre". (Kardec, 1984, p. 201)

4) Por que a Lei de Justiça, Amor e Caridade é a mais importante das Leis Naturais?

De acordo com O Livro dos Espíritos, há dez Leis Naturais: 1) Lei de Adoração; 2) Lei do Trabalho; 3) Lei de Reprodução; 4) Lei de Conservação; 5) Lei de Destruição; 6) Lei de Sociedade; 7) Lei do Progresso; 8) Lei de Igualdade; 9) Lei de Liberdade; 10) Lei de Justiça, Amor e Caridade. Essa divisão da Lei Natural em dez partes, da mesma forma como fez Moisés com os Dez Mandamentos, abrange todas as circunstâncias da vida. A Lei de Justiça, Amor e Caridade é a mais importante, porque ela resume todas as outras.

5) Que relação existe entre justiça, amor e caridade?

A justiça procura simplesmente ajustar-se à lei. A lei, contudo, é fria, diz respeito a uma norma. Observe, porém, o provérbio inglês: "Law on the table, justice under the table" ("Lei sobre a mesa, justiça sob a mesa"). A obediência cega a uma lei pode acarretar uma injustiça para com os seres humanos. Nesse caso, o amor e a caridade entram como um complemento da Lei de Justiça. Na pergunta 886 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec diz: "O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar ao próximo é fazer-lhe todo o bem possível, que desejaríamos que nos fosse feito. Tal é o sentido das palavras de Jesus: ‘Amai-vos uns aos outros, como irmãos’".

6) Como distinguir a justiça humana da justiça divina?

A justiça humana está sujeita às limitações do ser humano. Serve para uma sociedade durante um determinado período de tempo, conforme o grau de desenvolvimento moral e espiritual alcançado pelas pessoas que ali vivem. A justiça divina é a justiça estabelecida por Deus, é um modelo a ser seguido. A função dos seres humanos é aproximar-se cada vez mais dessa justiça maior, a justiça das justiças.

7) Qual o critério da verdadeira justiça?

"O critério da verdadeira justiça é de fato o de se querer para os outros aquilo que se quer para si mesmo, e não de querer para si o que se deseja para os outros. Como não é natural que se queira o próprio mal, se tomarmos o desejo pessoal por norma ou ponto de partida, podemos estar certos de jamais desejar para o próximo senão o bem. Desde todos os tempos e em todas as crenças o homem procurou sempre fazer prevalecer o seu direito pessoal. O sublime da religião cristã foi tomar o direito pessoal por base do direito do próximo". (Kardec, 1995, perguntas 873 a 876)

8) O que é a caridade, segundo Jesus?

"A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, mas abrange todas as relações com os nossos semelhantes, quer se trate de nossos inferiores, iguais ou superiores. Ela nos manda ser indulgentes, porque temos necessidade da indulgência, e nos proíbe humilhar o infortúnio, ao contrário do comumente se pratica... O homem verdadeiramente bom procura elevar o inferior aos seus próprios olhos, diminuindo a distancia entre ambos". (Kardec, 1995, pergunta 885)

9) Deve o homem sofrer ou fugir à injustiça?

Lembremo-nos do diálogo entre Sócrates e sua esposa. Ao visitá-lo na prisão, ela diz que aquela acusação era injusta e que ele deveria fugir de lá. Como filósofo que era, retrucou: e você gostaria que a acusação fosse justa?

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Enciclopédias

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995.

São Paulo, 20 de agosto de 2008

Lei de Liberdade

Sérgio Biagi Gregório

1) Por que a liberdade é uma lei natural?

Porque todos têm o direito de ser senhor de si mesmo. Nesse sentido, a escravidão contraria a lei natural.

2) Qual o conceito de liberdade?

Há mais de 200 sentidos registrados pelos historiadores de idéias acerca do termo liberdade. A palavra "liberdade" tem um duplo conteúdo, que a língua inglesa distingue pelas palavras freedon e liberty. Freedon refere-se ao princípio interno de escolha e de ação. É o aspecto positivo interno da ação independente (liberdade moral). Liberty refere-se à ausência de coação externa. É a capacidade social da ação.

3) Como a liberdade pode se vista pelo lado do sujeito?

Possibilidade de autodeterminação e escolha, espontaneidade, direção prática para uma meta etc.

4) Como a liberdade pode ser vista pelo lado do objeto?

Liberdade privada ou pessoal, a liberdade pública, política, moral, a liberdade de ação, de idéias, etc.

5) Foi o homem sempre livre? Foi sempre racional? Quando e por que é que se deu o salto para a racionalidade e liberdade?

De acordo com os ensinamentos doutrinários do Espiritismo, os Espíritos foram criados simples e ignorantes, como uma tabula rasa. No início da sua caminhada evolutiva, foram auxiliados pelos mentores espirituais. Aos poucos, porém, adquiriram o livre-arbítrio, a razão e o senso moral e, conseqüentemente, a responsabilidade pelos atos praticados.

6) O que é uma ação livre?

A ação (dita) livre é a ação pela qual o agente pode responder. Só há ação se houver alguém que por ela é capaz de responder, isto é, se houver autoria da ação. Isso quer dizer que deve haver responsabilidade, alguém que responde.

É-se tanto mais livre quanto mais responsável. Um homem é tanto mais livre quanto mais responsável for. A liberdade é tanto maior quanto mais império da lei e da justiça houver. A raiz ultima da liberdade é a razão.

7) Os animais têm liberdade?

Não. A liberdade é um apanágio do estádio humano. A decisão de ir vir, racionalmente decidido, pertence ao gênero humano. Os animais agem quase que exclusivamente pelos instintos; eles não respondem pelos seus atos.

8) A liberdade de um termina quando começa a liberdade do outro?

Esta frase precisa de uma explicação mais acurada. Ela não é espacial, nem temporal. Até tal hora eu tenho liberdade; depois, você tem. Devemos vê-la em termos de direito. O direito de um acaba quando começa o direito do outro.

 

9) Há fatalidade nos acontecimentos da vida? Neste caso, em que se torna o livre-arbítrio?

Na pergunta 851, de O Livro dos Espíritos, os Espíritos respondem que a fatalidade existe por causa da escolha feita pelo Espírito antes de encarnar, no sentido de passar por esta ou aquela prova. Escolhendo-a, cria para si uma espécie de destino. Se a escolha foi a de estar entre delinqüentes, ela se concretizará. Fisicamente, estará entre os delinqüentes; moralmente, poderá resistir ou ceder ao crime. Esta última é a função do livre-arbítrio. Pode-se reencarnar entre os viciados: ceder ou resistir ao vício dependerá da força moral, ou seja, do livre-arbítrio do Espírito encarnado. (Kardec, 1995)

Bibliografia Consultada

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995.

Setembro/2007

Lei Divina ou Natural

Sérgio Biagi Gregório

1) O que é uma lei?

Norma, preceito, princípio, regra; obrigação imposta pela consciência e pela sociedade. Em sentido geral, é a expressão de uma relação causal de caráter necessário, que se estabelece entre dois eventos ou fenômenos. Exemplo: aumento de temperatura dilata os corpos.

2) O que é uma lei natural?

Refere-se tanto à lei física quanto à lei moral. Ela regula todos os acontecimentos no universo. São leis eternas, imutáveis, não estão sujeitas ao tempo, nem à circunstância, embora tenham em si o elemento do progresso. Todos nós intuímos, mais ou menos claramente, um tipo ideal de homem perfeito que encarna em si, num grau esplêndido, todas as virtudes sem jaças de defeitos. Uma dessas intuições é fazer o bem e evitar o mal.

3) O que os grandes pensadores falaram sobre a lei natural?

Sócrates reconhece também, acima das leis mutáveis e escritas, a existência de uma lei natural - independente do arbítrio humano, universal, fonte primordial de todo direito positivo, expressão da vontade divina promulgada pela voz interna da consciência. O homem devia agir de acordo com a sua consciência: escolher com justiça o bem e se apartar do mal.

Thomas Hobbes (1588-1679) — A República, de acordo o próprio autor, nada mais é do que a aplicação da lei natural, conhecida como lei áurea: "Não fazermos aos outros o que não gostaríamos que fosse feito a nós".

John Locke (1632-1704) — Sobre o Governo Civil. Começa o seu discurso reportando-se ao estado natural, em que viviam Adão e Eva. Naquela época, a Lei Natural e a Razão eram os elementos necessários para direcionar os atos de cada um.

John Stuart Mill (1806-1873) — Na introdução do seu ensaio, On Liberty, dizia que a única liberdade que merece o nome de liberdade é aquela em que cada um procurando o seu próprio interesse não prejudica o próximo a conquistar o dele.

4) O que é a Lei Natural segundo o Espiritismo?

De acordo com o Espiritismo, a Lei Natural é a Lei de Deus, por isso se diz natural ou divina. Nela há o aspecto físico e o aspecto moral.

5) Que parte cabe à ciência? Que parte cabe ao espiritismo?

Cabe à ciência, com o seu método teórico-experimental, identificar e descobrir as leis da matéria. Para isso desenvolveu o método científico em que hipóteses são levantadas e testadas empiricamente. Ao Espiritismo cabe desvendar as leis morais, que representam a conduta do homem frente a ele mesmo, ao próximo e ao mundo em que está inserido.

6) Leis morais e leis naturais são a mesma coisa?

Não, as leis morais são parte da lei natural. Como dissemos, a lei natural é dividida em lei física e lei moral. O homem de bem estuda as leis morais e as segue, sem cessar, na sua caminhada rumo à imortalidade.

7) O que se deve entender por moral? Há diferença entre ética e moral?

Moral é a regra da boa conduta e, portanto, da distinção entre o bem e mal.

Há que se distinguir moral do falso moralismo, que apregoa uma conduta não racional do ser humano.

Ética – do grego ethos significa comportamento; Moral – do latim mores, costumes. Embora utilizamos os dois termos para expressarmos as noções do bem e do mal, convém fazermos uma distinção: a Moral é normativa, enquanto a Ética é especulativa. A Moral, referindo-se aos costumes dos povos nas diversas épocas, é mais abrangente; a Ética, procurando o nexo entre os meios e os fins dos referidos costumes, é mais específica. Pode-se dizer, que a Ética é a ciência da Moral.

Ética e Moral distinguem-se, essencialmente, pela especulação da Lei. A Ética, refere-se à norma invariante; a Moral, à variante. Contudo, há uma relação entre ambas, pois a sistematização da segunda tem íntima relação com a primeira.

O caráter invariante da Lei possibilita-nos questionar: de onde veio? Quem a ditou? Por que? Com que fim? A resposta dos transcendentalistas é que ela é heterônoma, isto é, veio de fora do "eu". Deus seria o autor da norma. Liga-se, assim, Filosofia e Religião. Para os cristãos, as normas éticas estão centradas nos Dez Mandamentos; a resposta dos imanentistas é que ela é autônoma, isto é, surge das tensões das circunstâncias.

8) Como se pode distinguir o bem do mal?

O bem é tudo o que está de acordo a lei de Deus e o mal é tudo o que dela se afasta. Quanto mais nos predispusermos a praticar o bem mais livre estaremos; a pratica do mal torna-nos escravos dos próprios vícios. Embora a sociedade nem sempre pune culpados, a lei moral é um juiz implacável, pois está no centro de nossa consciência. Quando o homem toma consciência do mal e começa a ver que poderia agir de forma diferente, aí começa a crescer o "homem novo".

9) Quais são as leis morais? Qual é a mais importante? Por que?

P rogresso

I gualdade

L iberdade

A doração

S ociedade

T rabalho

R eprodução

A Justiça, Amor e Caridade

D estruição

C onservação

A lei de Justiça, Amor e Caridade é a mais importante porque resume todas as demais leis e possibilita ao homem avançar mais rapidamente na vida espiritual.

 

10) Que nota, de 1 a 10, você daria a si mesmo, quanto à prática das leis morais?

Subsídios: tratamos o próximo como a nós mesmos? Quando ajudamos alguém, a nossa mão esquerda não sabe o que a direita faz? Dispensamos igual tratamento para todas as pessoas?

Bibliografia Consultada

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995.

Agosto de 2007

Maquiavel

1. Quem foi Maquiavel?

Nicolau Maquiavel, Nicollò Machiavelli, (1469-1527) foi político, historiador e escritor italiano. Nasceu e morreu em Florença. Foi chanceler e secretário das Relações Exteriores da República de Florença, cargos modestos, apesar dos títulos, limitando-se as funções à redação de documentos oficiais.

2. Que obras nos deixou?

Maquiavel é mundialmente conhecido pelo livro "O Príncipe". Deixou, porém, outros escritos, tais como, Comentários sobre a Primeira Década de Tito Lívio, A Mandrágora, História de Florença, além de inúmeros tratados histórico-político, poemas e sua correspondência particular, organizada pelos descendentes.

3. Como resumir em poucas palavras O Príncipe?

Antes de Maquiavel, o governante de um país era comparado ao piloto de um navio, que tinha por objetivo conduzi-lo ao porto, sem que afundasse. Analogamente, o governante de uma República deveria conduzir o povo, sem dispersá-lo, para a prática da virtude. Maquiavel, em O Príncipe, aceita conduzir o povo sem avarias, porém faz silêncio sobre a condução do povo à virtude. Tem dúvidas quanto ao realizar a justiça. O Príncipe retrata o descontentamento do seu autor por ter sido banido da vida pública. O que está por detrás do livro é a aparência do bom e do virtuoso que o condutor do povo deve ter. Não importa se o ser humano é virtuoso, mais vale parecer virtuoso.

4. Maquiavel foi um educador?

Maquiavel não é considerado um educador em termos do adestramento para a aquisição de conhecimentos e habilidades específicas, mas fundamentalmente, como educação de cidadania, que é a formação do cidadão, para que ele faça parte ativa de uma cidade. Em linhas gerais, Maquiavel trata de investigar se é possível encontrar uma solução pacifica em meio aos desejos ambiciosos e egoístas que predispõem os indivíduos à desagregação e ao conflito.

5. Há uma moral para o individuo e outra para o estado? Como vê-la sob o ponto de vista espírita?

Maquiavel distingue uma moral do indivíduo, que visa a obtenção de virtudes, e outra para o estado, que visa obter o bem comum, nem que para isso seja necessário o emprego do constrangimento, da coação e da persuasão. Maquiavel afirma que todo o julgamento moral deve ser secundário na conquista, consolidação e manutenção do poder. Ele diz: "Todos concordam que é muito louvável um príncipe respeitar a sua palavra e viver com integridade, sem astúcias nem embustes. Contudo, a experiência do nosso tempo mostra-nos que se tornaram grandes príncipes que não ligaram muita importância à fé dada e que souberam cativar, pela manha, o espírito dos homens e, no fim, ultrapassar aqueles que se basearam na lealdade". Sob o ponto de vista espírita, Allan Kardec encaminha-nos para outro tipo de reflexão, pois em toda a sua obra ressalta a importância de combater o orgulho e o egoísmo, os dois principais cancros da sociedade.

6. Os fins justificam os meios?

Para Maquiavel, sim. Em termos doutrinários espíritas, não. O verdadeiro espírita deve se pautar por um principio único, aquele que propicia a paz de sua consciência. Nesse caso, quer esteja à frente ou na retaguarda, procurará tratar todos de igual modo, pois assim também deseja ser tratado. Prestemos atenção para não nos deixarmos confundir os meios com os fins específicos de cada uma de nossas ações.

7. O que você tem a dizer sobre o termo maquiavélico?

O termo maquiavélico, que é a astúcia inescrupulosa, como método de governo, nada tem a ver com o cuidado que Maquiavel tinha em criar uma sociedade mais justa e mais de acordo com a conduta exemplar do ser humano.

Que frases você citaria de Maquiavel?

"Quando fizer o bem, faça-o aos poucos. Quando for praticar o mal, fazê-lo de uma vez só".

"Creio que seriam desejáveis ambas as coisas, mas, como é difícil reuni-las, é mais seguro ser temido do que amado".

"Um povo corrompido que atinge a liberdade tem maior dificuldade em mantê-la".

"Todos os profetas armados venceram, e os desarmados foram destruídos".

"Os homens esquecem a morte do pai antes que a perda do patrimônio".

"A primeira impressão que se tem de um governante e da sua inteligência é dada pelos homens que o cercam".

São Paulo, setembro de 2009

Marxismo e Espiritismo

Sérgio Biagi Gregório

1) Quem foi Marx?

Karl Marx (1818-1883) foi um economista e sociólogo alemão que se associou a Friedrich Engels para escrever sobre Economia e Política. Em 1845, publicou A Miséria da Filosofia. Em 1848, publica, juntamente com Engels, O Manifesto Comunista. Em 1859, publica a Critica da Política Econômica, que contém a essência das teorias econômicas, posteriormente desenvolvidas em seu livro famoso O Capital, cujo primeiro volume surgiu em 1867.

2) Qual a origem e âmbito do termo marxista?

O marxismo, tal como foi elaborado por Marx e Engels, é uma concepção dialético-materialista da natureza e da história, portadora de um projeto ético-político de transformação da sociedade capitalista dos tempos modernos.

Deste núcleo central derivam três correntes filosóficas: a) marxismo-leninismo; b) marxismo humanista; c) marxismo histórico-científico. (Enciclopédia Verbo de Sociedade e Estado)

3) O que se entende por concepção dialético-materialista da natureza e da história?

O ponto de partida para a compreensão deste tópico é a dialética de Hegel. Hegel (1770-1831) estabelecera as três fases do desenvolvimento do pensamento: tese, antítese, síntese (ou luta dos contrários). Uma vez alcançada a síntese, esta se torna uma nova tese para mais uma etapa da evolução do pensamento. Hegel falava a respeito do pensamento, da idéia, por isso idealista. Feuerbach (1775-1833), que foi discípulo Hegel, discorda do seu mestre, inverte a dialética de Hegel, colocando a matéria como principal e o Espírito como secundário. Marx, que também fora discípulo de Hegel, junta essas duas concepções e concebe o materialismo dialético histórico. Por que o faz? Por causa da sua observação da luta de classes ao longo da história da humanidade. Viu que na Idade Primitiva, os escravos lutavam contra os senhores; na Idade Média, os vassalos lutavam contra os senhores feudais; na Idade Moderna, o proletariado lutava contra os empresários.

4) No que se funda a dialética materialista histórica de Marx?

Na perspectiva da dialética materialista, a matéria é eterna, essencialmente dinâmica, em permanente movimento ascensorial. Num determinado momento do seu curso evolutivo, aparece a vida; num determinado momento da evolução da vida, surge o homem, cujo cérebro produz o pensamento como reflexo dos movimentos anteriores. Aplicada à história, a dialética materialista significa que a evolução da sociedade é determinada, em última instância, pelo modo de produção dos meios de subsistência. Com base nessa observação histórica, Marx e Engels sustentam que "a história de toda a sociedade até os nossos dias é a história da luta de classes". (Manifesto do Partido Comunista)

5) Como explicar que o sistema capitalista de livre iniciativa contém, em si próprio, o germe da sua destruição?

A alienação econômica fundamenta esta explicação. Marx parte da distinção entre o valor de uso e o valor de troca do trabalho humano. Acha ele que o proprietário paga um valor inferior àquele que o empregado produz para a empresa. A isto se dá o nome de mais-valia. Em suas lucubrações, chega à conclusão que surgirá um regime provisório – ditadura do proletariado – durante o qual se procederá a eliminação dos vestígios do espírito burguês.

6) Como se passaria do sistema capitalista para o comunismo?

No capitalismo há luta de classes (proletário e empresário). Este seria o último estádio – a partir do qual surgirá o socialismo, para depois vir o comunismo, uma sociedade sem classes, sem Estado, sem o homem explorando o próprio homem. Vigoraria apenas a igualdade absoluta.

7) Que crítica podemos fazer ao marxismo?

A matéria é uma concepção vaga, sem prévia demonstração de importantes propriedades ontológicas: eternidade, infinidade, auto-movimento e poder criador;

Quanto à influência do econômico, trata-se de uma grande confusão de conceitos;

Como doutrina metafísica, o materialismo dialético não passa de um postulado sem base racional;

Sob o aspecto religioso, reconhece-se o acerto de Marx à ilusão da religião. Contudo, o verdadeiro teísmo, tanto filosófico como revelado, não se confunde com essas ilusões.

8) Por que Marx se insurgiu contra a religião?

Marx era um cientista, e como tal, baseava-se na comprovação dos fatos. Os fatos materiais, aqueles que se podem apalpar, oferecem vastos campos à comprovação. Quanto aos dados do Espírito, a religião da época não lhe fornecia provas convincentes. Marx desconfiava das promessas da felicidade em outro mundo, na vida futura. Concentra-se assim apenas na matéria, no concreto. Não o faz por capricho, por querer contrariar a religião, mas por causa de sua sina de cientista.

9) Como relacionar Marx e Kardec?

Marx viu o homem como um composto físico-químico – conduzido pelo modo de produção. Kardec nos ensinava que o espírito está encarnado num corpo físico.

O homem de Marx libertou-se da exploração econômica, mas não da perspectiva da morte. Kardec ensinou-nos a respeito da imortalidade da alma.

Marx acertou na tese da "exploração do homem pelo homem". Fez ver que o socialismo, ou regime de propriedade coletiva, corresponde a um novo sentido da vida. O mesmo admite a doutrina socialista espírita. (Mariotti, 1983)

10) O que se conclui?

Que o Espiritismo vem nos trazer subsídios para todo e qualquer assunto, quer seja de cunho mediúnico, social e científico. Basta que apliquemos os seus princípios fundamentais em nossas análises.

Para reflexão: Práxis, vida contemplativa versus vida operativa, luta de classes e classes de luta.

Bibliografia Consultada

MARIOTTI, Humberto. Parapsicologia e Materialismo Histórico. Tradução de J. L. Ovando. São Paulo: Edicel, 1983.

POLIS - ENCICLOPÉDIA VERBO DA SOCIEDADE E DO ESTADO. São Paulo: Verbo, 1986.

São Paulo, maio de 2008

Matéria

Sérgio Biagi Gregório

1) Qual o conceito de matéria?

Substância, aquilo que tem extensão no espaço e no tempo. Designação de tudo o que ocupa lugar no espaço e possui massa. Modernamente, a matéria é considerada como uma forma de energia, baseada na fórmula E = mc2, em que E (energia), m (massa) e c (velocidade da luz no vácuo).

2) O que se entende por antimatéria? E imaterial?

Antimatéria é a variedade de matéria que difere da matéria que predomina no nosso universo por ser composta de antipartículas. No átomo são consideradas três partículas: protão, neutrão e eletrão. Existem, contudo, antipartículas (partículas com a mesma massa, mas de cargas opostas), como o antiprotão e o antieletrão. Isso levou à concepção da antimatéria, que existe no globo terrestre, mas poderia ser encontrada noutras galáxias. (Dicionário de Ciências Físicas e Biológicas)

Imaterial é o conjunto do que existe fora da matéria; sobrenatural, espiritual. Daí o termo imaterialismo, criado por Berkeley, para designar as coisas de Deus.

Segundo as instruções dos Espíritos, a MATÉRIA existe em estados ainda desconhecidos por nós. Ela pode ser tão sutil que não produza nenhuma impressão em nossos sentidos. Mesmo parecendo imperceptível, será sempre matéria.

3) A matéria é constituída de apenas um elemento ou de vários elementos?

Para Aristóteles, os corpos são classificados a partir da teoria dos quatro elementos, elaborada pelo pré-socrático Empédocles, segundo a qual os elementos constitutivos de todos os seres são: terra (matéria sólida); ar (matéria gasosa); água (matéria líquida); e fogo (matéria em combustão). Essa teoria foi aceita até o século XVIII, quando Lavoisier demonstrou que não se tratava de elementos, mas de substâncias compostas.

De acordo com Allan Kardec, os materiais constitutivos do mundo são matéria cósmica primitiva, simples e una, que se diversifica desde sua origem, continuando durante sua vida e se desmembrando pela decomposição. Se observarmos a diversidade da matéria, ver-se-á que as forças que realizam suas transformações, e as condições em que são produzidas, são ilimitadas, porque ilimitadas são as combinações da matéria. Assim, conclui Kardec: "Em todo o Universo, há uma só substância primitiva: a matéria cósmica ou fluido etéreo, que enche o espaço e penetra os corpos". É essa matéria cósmica primitiva geradora do mundo e dos seres, por forças e leis imutáveis que regem o Universo. (Kardec, 1975, p. 107 a 109)

4) A matéria existe desde toda a eternidade, como Deus, ou foi criada por Ele num certo momento? Quem foi criado primeiro: a matéria ou o Espírito?

Só Deus o sabe. Embora haja curiosidade sobre a origem das coisas, não é fácil penetrar na natureza íntima de Deus.

5) Pode-se dizer que o Espírito, sendo incorpóreo, é destituído de matéria?

Não. O Espírito, por ser real, há de ser alguma coisa. Diz-se que ele é imaterial, mas como é alguma coisa, o termo incorpóreo se ajustaria melhor. Em outras palavras, ele tem matéria, mas difere de tudo o que conhecemos por matéria. Por isso, os dois princípios do universo: a matéria e o Espírito.

6) Como pode o Espírito afetar a matéria e esta o Espírito?

O perispírito, envoltório semimaterial do Espírito, é o elo de ligação entre o Espírito e a matéria. Em O Livro dos Médiuns, Allan Kardec afirma que no conhecimento do perispírito está a solução para os diversos problemas da humanidade, inclusive os de cunho filosófico. A natureza do Espírito é quintessenciada. Ele não consegue se ligar diretamente à matéria, bastante bruta e grosseira. Necessita, assim, de um elemento semimaterial, que é o perispírito.

7) Como se dá a união entre o Espírito e o corpo físico?

"Quando o Espírito tem de encarnar num corpo humano em vias de formação, um laço fluídico, que mais não é do que uma expansão do seu perispírito, o liga ao gérmen que o atrai por uma força irresistível, desde o momento da concepção. À medida que o gérmen se desenvolve, o laço encurta. Sob a influência do princípio vito-material do gérmen, o perispírito, que possui certas propriedades da matéria, se une, molécula a molécula, ao corpo em formação, donde o poder dizer-se que o Espírito, por intermédio do seu perispírito, se enraíza, de certa maneira, nesse gérmen, como uma planta na terra. Quando o gérmen chega ao seu pleno desenvolvimento, completa é a união; nasce então o ser para a vida exterior". (Kardec, 1975, it. 18, p. 214)

8) A matéria é entrave à evolução do Espírito?

A matéria é o liame que escraviza o Espírito; é o instrumento que ele usa, e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação. A matéria é o meio; o fim é a evolução do Espírito. Não é a matéria que atrapalha a evolução do Espírito, mas os atrativos da matéria, ou seja, os prazeres, as guloseimas, as diversões etc.

9) Encontraram os filósofos solução para o problema da relação entre Espírito e matéria?

Não. A dualidade continua. Somente quando os filósofos incluírem o conceito de perispírito em suas análises, poderão dar uma solução satisfatória ao problema.

 

Bibliografia Consultada

DICIONÁRIO DE CIÊNCIAS FÍSICAS E BIOLÓGICAS. São Paulo: Meca, S.D.P.

KARDEC, A. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. 17. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1975.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo: FEESP, 1995.

Março/2008

Metafísica

1) O que é a Metafísica?

Metafísica é a doutrina da essência das coisas, o conhecimento das coisas primárias e dos primeiros princípios. Por ter como objeto o objeto de todas as outras ciências, e como princípio um princípio que condiciona a validade de todos os outros, a Metafísica é considerada a ciência primeira.

2) Onde podemos encontrar a origem da Metafísica?

Tales de Mileto é o primeiro dos metafísicos, pois ele quis achar a substância primeira, a physis, de onde tudo se originava. Pensou que este elemento primordial fosse a água, porque esta poderia se transformar em gelo (matéria sólida) pelo esfriamento e em ar (matéria gasosa) pelo aquecimento.

3) Desde quando a Metafísica é considerada a filosofia primeira?

Foi por acidente livresco que se deu o nome de Metafísica à filosofia primeira, isto é, ao estudo sistemático dos problemas fundamentais relativos à natureza última da realidade e do conhecimento humano. Isso se deveu a Andrônico de Rodes que, no século I de nossa era, classificou a obra de Aristóteles, colocando os livros da filosofia primeira depois dos de física e se referiu a eles como "os que estão atrás da física" (tà metà tà physikà). Desde essa época, a metafísica é a parte da filosofia que se ocupa do que está mais além do ser físico enquanto tal.

4) Como se divide a Metafísica?

A Metafísica pode ser dividida em três partes: 1) ontologia (teoria do ser); 2) gnosiologia (teoria do conhecimento); 3) teoria do primeiro princípio do conhecimento e do ser (absoluto, Deus). O fato de esta palavra referir-se tanto à ontologia, como à gnosiologia, e mesmo a Deus, dificulta a definição rigorosa da mesma.

5) Como retratar historicamente a Metafísica?

Tales de Mileto, ao tentar encontrar o physis, deu a partida para a busca da origem, do arqué, do princípio das coisas. A teoria das ideias de Platão fornece-nos alguns subsídios para a sua compreensão. Aristóteles denominou a ciência primeira de Metafísica. Na Idade Média, a Metafísica permanece por longo tempo no campo da religião. Descartes, por sua vez, retoma o sentido filosófico, e afirma que o conhecimento de Deus e da alma é alcançado "pela razão natural". Depois de Descartes apareceram outros racionalistas. Kant, por exemplo, achava que o conhecimento depende apenas da razão, independentemente das experiências. Hegel, na sua dialética idealista, e Marx, na sua dialética materialista, dão também as suas contribuições para a compreensão do tema.

6) Por que houve depreciação deste termo?

O entendimento de "metafísico" como sinônimo de "sobrenatural" foi um deles. Há, também, o pensamento de que metafísico é "um homem cego num quarto escuro, que procura um gato preto que não está ali". Para completar, diz-se que o "teólogo é a pessoa que acha o gato". Hume e Augusto Comte, deslocando o absoluto para a região das fantasias, deram os seus contributivos para desmerecer a Metafísica.

7) O que é a Metafísica espírita?

Em linhas gerais, a metafísica é a busca da origem das coisas, tais como a origem de Deus, do Espírito e da matéria, entre outros. O Espiritismo, principalmente em O Livro dos Espíritos, dá-nos subsídios valiosos para tal compreensão.

8) Dê-nos uma ideia da teoria do conhecimento espírita

Para Platão, que pressupunha a reminiscência das idéias, conhecemos pelo Espírito; para os sofistas e empíricos, conhecemos pelos sentidos. Para o Espiritismo, a percepção é uma faculdade do Espírito e não do corpo. É uma faculdade geral do Espírito que abrange todo o seu ser.

9) Como explicar a ontologia espírita?

A ontologia é a parte da filosofia que trata do ser enquanto ser. Na Filosofia Espírita, cada criatura humana é um ser espiritual, mas é também um ser físico ou um ser corporal. A ligação entre o ser espiritual e o ser físico é feita através do perispírito (corpo perispiritual). Desta forma, o ser não é apenas o Espírito, é também o perispírito e o corpo vital.

10) Temos condições de penetrar no mistério de Deus?

No que tange ao conhecimento do Ser Supremo (Deus), a Doutrina Espírita afirma que quando o nosso Espírito não estiver mais obscurecido pela matéria, teremos condições de penetrar no mistério da divindade. Por enquanto devemos nos contentar com o conhecimento de seus atributos, ou seja, Deus é eterno, imutável, imaterial, único, todo poderoso, e soberanamente justo e bom.

São Paulo, novembro de 2009

O Mito

Sérgio Biagi Gregório

1) O que é um mito?

O mito é uma narrativa que procura explicar os principais acontecimentos da vida, os fenômenos naturais, as origens do Mundo e do Homem por meio de deuses, semi-deuses e heróis. O "mito" é todo relato sério que está em conflito com nossos conhecimentos acerca dos processos naturais.

2) Quais são os sentidos que o termo carrega?

Ao longo do tempo, o mito foi carregando outros sentidos, entre os quais, citamos:

Sociologicamente, é a narrativa imaginária de origem popular: "os mitos cosmogônicos";

Historicamente, é a exposição de uma doutrina sob a forma de narrativa alegórica: "os mitos platônicos".

Vulgarmente, é a dramatização das grandes aspirações frustradas do grupo: "mito da greve geral".

3) O que é um rito? E ritual? Há diferença entre rito e ritual?

O rito é um conjunto de atividades organizadas e institucionalizadas, no qual as pessoas se expressam por meio de gestos, símbolos, linguagem e comportamento, transmitindo um sentido coerente ao ritual.

Ritual – conjunto de práticas consagradas pelo uso e/ou normas, e que devem ser observadas de forma invariável em ocasiões determinadas.

Há grande diferença entre rito e ritual. O rito é associado ao mito, enquanto ritual diz respeito a quase tudo que fazemos. Nesse caso, o médico procede a um ritual para fazer a sua operação. Numa Casa Espírita, há um ritual do preparo de ambiente, da prece, das vibrações etc.

4) Pode o mito viver sem o rito?

Não. O mito primordial e genuíno é inimaginável sem o rito, ou seja, sem um solene proceder e um atuar solene que elevam o ser humano a uma esfera superior. O rito não é uma mera imagem do acontecer mítico, mas sim este mesmo acontecer, no sentido pleno do termo.

5) Como se explica o sentido próprio e o sentido figurado do mito?

Em sentido próprio, o mito significa uma fábula arquitetada pela fantasia humana para personificar entidades do espírito ou da natureza. Exemplo: Zeus é Deus na mitologia grega. Em sentido figurado, o mito é a atribuição de um valor absoluto a uma entidade relativa. Exemplo: modernamente, somos impelidos a enriquecer e ter posição de destaque; caso não o consigamos, somos desprezados pelos que o conseguiram.

6) Como a psicologia profunda interpreta os mitos?

A psicologia profunda afirma que, ao analisar os sonhos e os estados oníricos similares de pessoas psiquicamente perturbadas ou enfermas, tem-se deparado com autênticas imagens míticas, capazes, de explicar a essência do mito. Essas imagens – arquétipos ou imagens primordiais – ficaram guardadas no inconsciente, prontas a ressuscitar tão logo a alma precise delas. (1)

7) Por que admiramos a filosofia, a religião, a ciência e a arte grega e desprezamos os seus mitos?

Na filosofia, na ciência, na religião e na arte há razões de procedimento; no mito, não. Há, também, a influência das religiões reveladas, que admitem um único Deus. Estas se assenhorearam da verdade; os outros modos de vivenciar o divino ficaram em segundo plano. (1)

8) Qual a principal falha na interpretação do mito?

É a nossa incapacidade de penetrar na vivência dos antigos, principalmente na sua forma de adorar a Deus. A postura – gestos, símbolos, linguagem e comportamento – tem um valor intrínseco que o homem moderno não consegue captar com a devida clareza. (1)

9) Quais são os mitos da modernidade?

Há inúmeros mitos, entre os quais, citamos: o mito da mãe-mártir, do bom velhinho, da esposa perfeita, da mulher boazinha ("minha mulher é uma santa"), da juventude como uma glória e da obtenção do êxito.

10) Há mitos no Espiritismo?

Não. Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, utilizou o método teórico-experimental para as suas análises e conclusões.

11) Há rituais dentro dos Centros Espíritas?

Sim. Há os rituais aceitáveis e os que não contribuem muito para a eficácia das sessões espíritas. Os rituais aceitáveis são: preparo de ambiente, prece, vibrações etc. Há, porém, alguns que não precisariam ser praticados: uso de túnica branca para os dirigentes, a abstinência de carnes nos dias de trabalho, a realização de casamentos, batizados e crismas "espíritas", os hinos cantados no começo de uma reunião, a obrigação de receber passes à entrada do recinto etc.

Fonte de Consulta

(1) OTTO, Walter E. Teofania: O Espírito da Religião dos Gregos Antigos. Tradução de Ordep Trindade Serra. São Paulo: Odysseus, 2006.

São Paulo, maio de 2009.

 

Pensamento e Fisiologia do Pensamento

1. O que é o pensamento?

A palavra pensamento é fácil de ser intuída, mas difícil de ser explicada com palavras. O pensamento é definido em termos das atividades mentais, como inteligência ou razão, em que são descartados os sentimentos e as volições. Liga-se também à atividade discursiva ou intuitiva.

2. qual a definição de fisiologia?

Ciência que trata dos fenômenos vitais e das funções pelas quais se manifesta a vida. Parte da biologia cujo objeto é o estudo das funções dos organismos vivos, vegetais e animais. 

3. O que se entende por fisiologia do pensar?

A fisiologia do pensar diz respeito às relações matéria-espírito, corpo-alma, corpo-mente, matéria-consciência, físico-químico e, atualmente, mente-cérebro. Para Kant, a fisiologia do pensar resume-se em passar da sensação (estímulo desorganizado), para a percepção (sensação organizada), para concepção (percepção organizada) e para a ciência (conhecimento organizado). 

4. Por que é difícil descrever o pensamento?

A cultura grega deu ênfase à razão. A razão fazia o indivíduo raciocinar e aplicar-se ao conhecimento das virtudes. Acontece que o pensamento dos pré-socráticos e dos orientais não são interrogativos, mas poéticos-noemáticos, em que o racional é deixado em segundo plano. Mesmo assim, esses pensamentos poéticos-noemáticos não são superficiais, mas essenciais à própria elaboração do pensável.

5. Como o pensamento se forma em nossa mente?

O mecanismo do estímulo-resposta do comportamento humano pode nos ajudar. Recebemos um estímulo. Este estímulo aciona um receptor (olhos, ouvidos...). O receptor manda impulsos nervosos ao cérebro. O cérebro reenvia-os para os efetores, formalizando uma resposta. As percepções, porém, podem ser sensoriais e extra-sensoriais. Mesmo assim elas são captadas. Depois repassadas ao corpo físico e ao perispírito até chegar ao Espírito propriamente dito, que faz uma síntese da informação. A percepção volta como uma crítica conceituada.  

6. Como explicar a estrutura da mente?

A mente é vista como atividade ou processos mentais, em que estão presentes a consciência, a intencionalidade, a subjetividade e o caráter representacional. Para explicar a estrutura da mente há a teoria clássica das faculdades, em que se pressupõe hierarquia de poderes, ou seja, a inteligência e a vontade são superiores à imaginação, por exemplo. Presentemente, temos o construtivismo e o inatismo. No construtivismo, todas as estruturas mentais são construídas pelo sujeito com relação ao seu meio ambiente. No inatismo, a mente possui estruturas inatas que são ativadas em contato com o meio ambiente.

7. Na concepção do pensamento, qual a influência do monismo e do dualismo?

No monismo, há uma única substância. Ao longo do tempo, prevaleceu a substância material. No dualismo, há separação entre Espírito e Matéria. Descartes foi o seu idealizador. Tanto ele quanto os seus seguidores não souberam, entretanto, explicar como uma substância espiritual pode se ligar a uma substância material. .

8. Na ciência moderna, que tipo de relação há entre o computador e o cérebro?

No computador, há a máquina (hardware), os programas (softwares).e a informação. Os programas usam a máquina para processar a informação. Analogamente, o cérebro é o hardware; as estruturas mentais, o software. O processamento das informações se dá de duas maneiras: modularidade e conexionismo. A tese da modularidade pressupõe que o cérebro funcione por “módulos independentes” e pelos “sistemas centrais”, tais como as relações entre os computadores independentes e o computador central.  O conexionismo é a interpretação mais recente do funcionamento do cérebro. De acordo com esta teoria, o cérebro não processa a sua informação em série (uma operação depois da outra), mas simultaneamente, em paralelo.

9. Pensamento é matéria?

Para o Espiritismo, o pensamento, como essência, é um atributo do Espírito, sinônimo de inteligência. Nesse caso, ele não pode ser considerado matéria. Acontece que também é usado no sentido material. Daí, alguma confusão. Os processos mentais entram em cena. Em vez de conceituá-los adequadamente, simplesmente dizemos que o pensamento é matéria e vamos tocando o barco. Sócrates, na antiguidade, já nos alertava sobre a necessidade bem definirmos os termos antes de iniciarmos uma discussão.

10. Dê-nos exemplos do uso do pensamento como matéria.

Quando nos reportamos às radiações, à matéria mental, às vibrações, à doação energética, aos passes, à fotografia do pensamento etc. estamos nos referindo ao pensamento como matéria, como atuação do pensamento no fluido cósmico universal.

São Paulo, maio de 2010.

 

 

Pergunta e Pergunta Filosófica

Sérgio Biagi Gregório

1) Que é uma pergunta?

Palavra ou frase com que se interroga. Indagação feita com o intuito de obter uma resposta. Ditado: "Quem pergunta quer saber". Tipos de perguntas: Que é isto? Que horas são? Quem foi Allan Kardec?

2) Que é uma pergunta filosófica?

As questões filosóficas não são pontuais, isoladas, mas estabelecem redes, conectam-se a outras questões, tecendo um campo mais amplo de investigação. A pergunta filosófica relaciona-se com a admiração, a crítica, a reflexão e a vivência do sujeito. A pergunta filosófica sintetiza o objetivo central da filosofia, ou seja, inclui o conhecimento de si mesmo, a relação do sujeito com o próximo e a consciência do mundo que o rodeia.

3) Ensinar a pensar é ensinar a perguntar?

Sim. Observe alguns livros de filosofia. Os autores, em cada capítulo, partem de questões provocativas. Tomemos como exemplo o capítulo III, Que é Bem e que é Mal?, do livro de S. E. Frost Jr., Ensinamentos Básicos dos Grandes Filósofos. Eis as perguntas iniciais: Qual a medida do bem e do mal? Como podemos saber se um ato é bom ou mal? Existe, na própria natureza do universo, um código de leis que determine o bem e o mal? Ou é a bondade e a maldade uma questão de relação entre um ato e outros atos?

4) Como reaprender a perguntar?

Admirar-se, espantar-se com o que ocorre diariamente e daí elaborar uma pergunta. Não se deve conformar com o que foi dito pela mídia ou pela boca de uma autoridade. É preciso buscar algo que esteja por detrás das aparências. "Para pressentir no mundo outra realidade, precisamos cavar muita terra como quem busca ouro. A filosofia é uma longa atividade de escavação".

5) Em que consistiam as perguntas de Sócrates?

As perguntas de Sócrates não tinham o objetivo de obter uma resposta definitiva. O que ele queria era, através de um encadeamento de perguntas e respostas, aprofundar o conhecimento acerca de um determinado tema. Preocupava-se em passar da opinião ao conceito, ou da doxa a episteme, sem, contudo, chegar a uma conclusão sobre o assunto proposto.

Lembrete: "O alvo da filosofia é fazer as perguntas certas, não descobrir as respostas certas".

6) Quem sou eu é uma pergunta filosófica?

Informar o nome, o estado civil, o endereço e a idade não é resposta filosófica. Mesmo acrescentando alguns dados, como por exemplo, excelente professor de Direito ou coisas semelhantes, ainda não é uma resposta filosófica. Para ser filosófica, a resposta tem a ver com vivência, atitude de reflexão e estado de admiração. O exemplo de Santo Agostinho é pertinente: Dizia que todas as noites, antes de adormecer, repassava o seu dia para ver como fora com as suas palavras, os seus pensamentos e os seus atos. Se percebesse que tinha ofendido o seu próximo, pedia silenciosamente o seu perdão.

7) Toda a pergunta precisa de resposta?

Não. Há muitas perguntas que fazemos simplesmente no intuito de apresentar um tema ou uma questão. É como esquentar o motor do carro antes de pegar a estrada. A pergunta que precisa de resposta é aquela que prende a nossa atenção, é aquela que diz respeito a uma necessidade peremptória do nosso espírito imortal.

8) Como fazer perguntas relevantes?

As perguntas que contribuem para a construção do conhecimento são perguntas relevantes. Deve-se tomar consciência se as nossas perguntas se dirigem para tal propósito.

Para reflexão: desde que entramos no ensino fundamental, ou mesmo antes, somos geralmente ensinados a dar respostas a questões formuladas por outras pessoas. O mero responder pode consistir em um bloqueio no processo de construção do conhecimento, pois não costumamos observar os limites de nossas respostas.

São Paulo, julho de 2006.

Religiões Universais

1) O que entende por religião?

Religião é sentimento divino que prende o ser humano ao Criador. É a ligação do crente com o seu objeto de adoração (pedras, árvores, Deus, Jeová etc.).

2) O que são religiões universais?

Religiões universais são aquelas que acreditam ter importância para todo o mundo e tentam, com maior ou menor intensidade, converter pessoas.

3) Quais são as grandes religiões da humanidade?

As grandes religiões da humanidade podem ser classificadas por meio de famílias: família semítica (Judaísmo, Cristianismo, Islamismo); família indiana (Hinduismo, Budismo, Jainismo); família do extremo oriente (Confucionismo, Taoísmo, Xintoísmo). (1)

4) Como caracterizar as religiões universais?

As religiões universais podem ser monoteístas, politeístas e mesmo ateias. O Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo são monoteístas. O Hinduísmo é politeísta. Umas crêem num Deus revelado; outras não. Confúcio, por exemplo, em sua doutrina, exclui toda especulação metafísica e não se ocupa dos mortos. Só se ocupa do homem e das coisas humanas. Prega o raciocinar e o expressar-se bem, numa moral que leve o homem a viver bem.

5) O que distingue as religiões primitivas das religiões universais?

As religiões primitivas tendem a ser locais, como é o caso da africana: seus praticantes não a consideram relevante para outros povos.   As religiões universais acreditam ter importância para todo o mundo e tentam, com maior ou menor intensidade, converter pessoas. Nestas há uma escritura, como é o caso da Bíblia. (1)

6) O ecumenismo é possível?

Ecumenismo é o processo de busca da unidade. Não é tarefa fácil, porque todas as religiões fundamentam-se em dogmas e, como sabemos, é muito difícil de o ser humano deixar algo que está sedimentado há muito tempo em seu subconsciente.

7) É o Espiritismo uma religião?

O Espiritismo não pode ser considerado religião, quando empregamos esta palavra sob o ponto de vista de religião organizada, com dogmas e paramentos. Se tomarmos a palavra como uma ligação do homem com o Criador, não resta dúvida que é uma religião, a religião natural.

8) No futuro, o Espiritismo tornar-se-á uma religião universal?

Segundo comunicação de um Espírito, "O Espiritismo é chamado a desempenhar imenso papel na terra. Reformará a legislação, retificará os erros da História, restaurará a religião do Cristo, instituirá a verdadeira religião, a religião natural, a que parte do coração e vai direto a Deus, sem se deter nas franjas de uma sotaina, ou nos degraus de um altar". Extinguirá para sempre o ateísmo e o materialismo. (2)

(1) http://www.paijulioesteio.kit.net/o_que_e_religiao_4.htm, em 05/01/2010

(2) KARDEC, A. Obras Póstumas. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1975, p. 299.

6/1/2010

Símbolo

Sérgio Biagi Gregório

"Um sinal é uma parte do mundo físico do ser (being), um símbolo é uma parte do mundo humano da significação (meaning)". E. Cassirer, An Essay mon Man, p. 32.

1) Como podemos representar o mundo?

Há duas maneiras de representar o mundo: a direta, em que objeto se apresenta à nossa frente; b) indireta, quando por qualquer razão o objeto não pode se apresentar em "carne e osso". A forma indireta representa o símbolo, usado indiferentemente como "imagem", "figura", "ícone", "ídolo", "signo", "emblema", "parábola", "mito" etc. (1)

2) O que é um símbolo?

Símbolo é um sinal particular, que pode ser expresso com figuras, imagens, palavras e gestos. Do gr. symbolon = neutro - vem de symbolé‚ que significa aproximação, ajustamento, encaixamento, cuja origem etimológica é indicada pelo prefixo syn, com e bolé, donde vem o nosso termo bola, roda, círculo. Referia-se, deste modo, à moeda usada como sinal. O símbolo é, pois, tudo quanto está em lugar de outro. (2)

3) Como conceituar filosoficamente o símbolo?

Ao o passo que um sinal de um objeto de percepção é uma parte do objeto que evoca o todo ou a porção do todo que mais interessa ao sujeito, um símbolo é algo que evoca, não o objeto de percepção, mas a concepção que temos do objeto. Este poder de compreender e interpretar símbolos diz respeito à mentalidade humana. Os animais, por exemplo, não têm essa capacidade. Diz-se que o cão pode se impressionar com a vista de um gato, mas não sente reação alguma ao ver um desenho que represente o gato. (3)

4) Existe a simbólica? O que é?

A simbólica é uma matéria filosófica voltada para o estudo da gênese, do desenvolvimento, da vida, da morte e da ressurreição dos símbolos. A simbólica tem por objetivo descobrir o que está escondido atrás dos ritos e dos dogmas sob emblemas tão diversos. Por isso, utiliza o método dialético-simbólico, no sentido de, através da analogia, tornar compreensível o processo mágico, as fantasias e os mistérios. (2)

5) Todo símbolo é sinal, mas nem todo sinal é símbolo. Comente.

O símbolo é a espécie e o sinal o gênero. Para que o sinal seja símbolo ele tem que estar no lugar de outro. O sinal pode ser apenas convencional, arbitrário. O símbolo, não. Este deve repetir, analogicamente, algo do simbolizado. Além disso, o símbolo é meio de acesso às realidades pessoais, misteriosas e inacessíveis a uma observação direta e imediata. Por exemplo: o signo bandeira simboliza os vários graus de heroísmo.

6) Qual a importância da simbologia da palavra na comunicação humana?

O ser humano, praticamente, não dispõe de um símbolo mais privilegiado para a comunicação do que a palavra. Imagine um indivíduo feito uma estátua. Nessa circunstância, é difícil sondar-lhe o pensamento e o sentimento. Porém, ao se expressar, torna-se logo conhecido. Além da transmissão de conteúdo, a palavra é muito mais um instrumento de comunicação espiritual: faculta ao ouvinte a elaboração de novas idéias sobre o discurso proferido.

7) Quais são os aspectos simbólicos das parábolas evangélicas?

A parábola, por definição, é uma narrativa alegórica na qual o conjunto de elementos evoca, por comparação, outras realidades de ordem superior. Jesus falava por parábolas no sentido de despertar a curiosidade dos ouvintes para, depois, dar as explicações necessárias. Na realidade, as parábolas são verdadeiros conjuntos simbólicos do Reino de Deus e os simples exemplos morais. (1)

8) Relacione símbolo e redundância.

Nos símbolos rituais há necessidade da redundância dos gestos, ou seja, da sua repetição. Alguns exemplos: o muçulmano que, na hora da prece, se prostra em direção ao Oriente, o padre cristão que abençoa o pão e o vinho, o soldado que presta homenagem à bandeira.

9) Dê-nos alguns exemplos de símbolos usados no Evangelho.

Anotemos três: luz, árvore e figueira,

luz é o símbolo multimilenar do desenvolvimento espiritual. É a herança de Deus para as trevas. É a substância divina gerada nas fontes superiores da esfera espiritual. É a mais elevada, potente e veloz das expressões do movimento, suscetível de acrisolar-se ao infinito.

A árvore é o símbolo da vida, em perpétua evolução e em ascensão para o céu; evoca todo o simbolismo da verticalidade. As suas raízes enterradas no solo simbolizam a terra, o subterrâneo. O seu tronco e os seus galhos mostram a ascensão para o Céu, ou seja, a evolução espiritual do ser humano. Por isso, ela é universalmente considerada como o símbolo das relações que se estabelecem entre a terra e o céu.

figueira, assim como a oliveira e a videira, é uma das árvores que simbolizam a abundância. Quando seca, porém, torna-se a árvore do mal. Na simbólica, representa a ciência religiosa. No sentido estrito da simbólica cristã, ela representa não só a ciência como também a Sinagoga que, por não ter reconhecido o Messias da Nova Aliança, já não tem frutos. Quando Jesus amaldiçoa a figueira, ele se dirige à ciência que esta árvore representa, pois a religião que imperava na sua época não servia para ser a lídima herdeira da Doutrina renovadora trazida por ele; por isso, deveria ser condenada à esterilidade. (4)

10) Podermos confiar na interpretação do símbolo dada pelo Espiritismo?

Allan Kardec, ao codificar a Doutrina Espírita, usou o maior rigor científico possível. Para sua estruturação, valeu-se das contribuições de diversos médiuns, espalhados pelo mundo todo. Como o trabalho é dos Espíritos, eles (os Espíritos) tiveram o devido cuidado, empenharam-se diligentemente na interpretação dos textos deixados pelos apóstolos. O "não vim trazer a paz, mas a espada" é um bom exemplo. De acordo com O Evangelho Segundo o Espiritismo, a paz e a espada são figuras de linguagem que representam toda a luta para a implantação de uma nova ideia, de uma nova doutrina. Nenhuma ideia nova é aceita imediatamente, porque fere pontos de vistas e preconceitos.

Bibliografia Consultada

(1) DURAND, Gilbert. A Imaginação Simbólica. Trad. Eliane Fittipaldi Pereira. São Paulo: Cultrix, 1988

(2) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.

(3) GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.].

(4) CHEVALIER, J., GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). 12. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998.

São Paulo, agosto de 2009.

e-mail: sbgregorio@gmail.com

O Tempo

Sérgio Biagi Gregório

1) O que é o tempo?

É a sucessão dos anos, dos dias, das horas etc., que envolve, para o homem, a noção de presente, passado e futuro: o curso do tempo; o tempo é um meio contínuo e indefinido no qual os acontecimentos parecem suceder-se em momentos irreversíveis. (Dicionário Aurélio)

2) O tempo é um problema?

Por problema, entende-se uma análise mais acurada de um tema aparentemente fácil e intuitivo. Santo Agostinho nos dizia que quando não lhe perguntavam sobre o tempo, sabia a resposta, mas, se questionado, já não o sabia mais. É factível, pois, considerá-lo como um problema.

Por exemplo, ao dizermos que o tempo é a duração sucessiva de qualquer fenômeno ou do movimento real das coisas, criamos um problema, pois o enigma da duração sucessiva é problemático. O que é duração?

Os filósofos antigos perguntaram à esfinge o que era o tempo, mas ela nada respondeu, porque era o próprio tempo feito estátua de silêncio.

3) Como é que o homem chega ao tempo?

A pergunta fundamental não é: que é o tempo? Muitos pensadores se posicionaram para defini-lo. Newton diz: "O tempo absoluto, verdadeiro e matemático, flui uniformemente devido à sua própria natureza e a partir de si próprio, sem relação com qualquer coisa externa". Para Aristóteles, "O tempo é o número do movimento segundo um antes e um depois". O físico norte-americano Richard Feynman, laureado com o Prêmio Nobel, afirma: "Tempo é o que acontece quando mais nada acontece". A pergunta fundamental é: "Como é que o homem chega ao tempo?" Para responder a essa pergunta, devemos prestar atenção à classificação hierárquica de vivências do tempo.

Vivência da simultaneidade por oposição a não-simultaneidade;

Vivência da sucessão ou da ordem temporal;

Vivência do presente ou do agora;

Vivência da duração. (Pöpel, 1989, cap. II)

4) O relógio mede o tempo?

Como medir algo que não se deixa tocar, ouvir, saborear nem respirar como um odor? Os relógios são processos físicos que a sociedade padronizou, para computar os segundos, os minutos e as horas. Para que isso seja possível, os acontecimentos devem ocorrer numa certa ordem. Se dois eventos não forem rigorosamente simultâneos, um acontece antes do outro. Qualquer medida desse tempo reduz-se a contar o número de acontecimentos de certo tipo, como, por exemplo, a alternância entre dia e noite. Pode-se usar o número de batidas do pêndulo, ou o número de vibrações de um cristal.

Por convenção, um dia possui, assim, a duração de 86.400 segundos e um segundo dura tanto quanto 9.192.633.770 períodos de um fenômeno de transição provocado em um átomo de césio.

A noção de presente torna-se frágil: passamos a dizer: "eu serei" ou "eu era".

Entretanto, um consolo é oferecido pela física quântica àqueles que viessem a ficar desgostosos com desaparecimento do presente: nenhuma dimensão poderia ser inferior ao "tempo de Planck", que dura 5,4 x 10-44 segundos. Enquanto decorre essa duração, é, portanto, permitido em boa lógica dizer "eu sou", mas isso tem de ser dito muito depressa.

Essa duração interior não mantém, em geral, vínculos estreitos com o tempo objetivo dos acontecimentos: os minutos de espera são longos, os instantes de prazer são curtos; com a idade, os anos passam cada vez mais depressa. (Jacquard, 2004)

5) No que consiste a irreversibilidade do tempo?

A irreversibilidade do tempo é uma propriedade que caracteriza o curso do tempo, por "curso do tempo" entende-se a sucessiva mudança de acontecimentos no processo da existência. A direção do curso do tempo é a ordem dirigida "antes" e "depois" na sucessão dos acontecimentos. (Askin, 1969, pág. 142)

6) Como distinguir o tempo absoluto do relativo?

Em Astronomia, distingue-se o tempo absoluto do tempo relativo pela equação do tempo, porque os dias naturais são desiguais, ainda que os tomemos vulgarmente por uma medida igual de tempo.

O tempo absoluto, verdadeiro e matemático, em si próprio e por sua própria natureza, flui uniformemente sem relação com nada de exterior, e com um outro nome é chamado Duração.

O tempo relativo, aparente e vulgar, é uma medida qualquer, sensível e externa da duração pelo movimento (quer ela seja precisa ou imprecisa) de que o vulgo se serve ordinariamente em lugar do tempo verdadeiro: tais como a hora, o dia, o mês, o ano.

7) Que relação há entre tempo e eternidade?

O tempo é apenas uma medida relativa da sucessão das coisas transitórias; a eternidade não é suscetível de medida alguma, do ponto de vista da duração; para ela, não há começo, nem fim: tudo lhe é presente.

Se séculos de séculos são menos que um segundo, relativamente à eternidade, que vem a ser a duração da vida humana? (Kardec, 1975, pág. 107)

Anedotas sobre a eternidade

Uma mulher é informada pelo médico que tem seis meses de vida.

– E eu posso fazer alguma coisa? – pergunta ela.

– Pode, sim – replica o médico. – Pode casar-se com um contador.

– Como isso vai ajudar na minha doença? – a mulher pergunta.

– Ah, não vai ajudar nada na sua doença – diz o médico –, mas vai fazer esses seis meses parecer uma eternidade.

 

Um homem está rezando a Deus.

– Senhor – diz ele –, gostaria de lhe fazer uma pergunta.

O Senhor responde:

– Sem problema. Vá em frente.

– Senhor, é verdade que um milhão de anos é apenas um segundo para o Senhor?

– Sim, é verdade.

– Bom, então, o que é um milhão de dólares para o Senhor?

– Um milhão de dólares para mim não passa de um centavo.

– Ah, então, Senhor – diz o homem -, pode me dar um centavo?

– Claro – diz o Senhor. – Espere um segundo.

Para reflexão: O tempo passa ou permanece? O tempo passado não volta mais? Como é medido o tempo no mundo espiritual?

Bibliografia Consultada

FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, s/d/p.

PÖPPEL, Ernest. Fronteiras da Consciência: Da Realidade e da Experiência do Mundo. Tradução de Ana Maria Roltoff. Lisboa: Edições 70, 1989.

JACQUARD, Albert. Filosofia para não Filósofos: Respostas Claras para Questões Essenciais. Tradução de Guilherme João de Freitas.Teixeira. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

ASKIN, I. F. O Problema do Tempo - Sua Interpretação Filosófica. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1969.

KARDEC, A. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. 17. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1976.

São Paulo, 16/4/2008

Virtudes Cardeais

1) Qual o significado de virtude?

Virtude é uma disposição estável em ordem a praticar o bem; revela mais do que uma simples potencialidade ou uma aptidão para uma determinada ação boa: trata-se de uma verdadeira inclinação. Os seus significados específicos podem ser reduzidos a três: 1º capacidade ou potência em geral; 2º capacidade ou potência do ser humano; capacidade ou potência moral ser humano

2) Por que cardeais?

A palavra cardeal vem de gonzo (dobradiça). São as virtudes fundamentais nas quais todas as outras se apoiam. São as virtudes básicas para toda e qualquer ação do ser humano.

3) Quais são as virtudes cardeais?

As virtudes cardeais são quatro, a saber: prudência (sabedoria), fortaleza (coragem), temperança e justiça.

4) Qual a origem das virtudes cardeais?

Platão, no seu livro República, ao reportar sobre as qualidades da cidade, descreveu as quatro virtudes que uma cidade devia possuir. Para ele, as virtudes fundamentais eram: Sabedoria, Fortaleza, Temperança e Coragem. Posteriormente, convencionou-se chamar essas virtudes de cardeais, ou seja, fundamentais, em que tudo o mais devia girar. Observação: Platão desenvolveu primeiramente as virtudes na cidade; somente depois é que as vinculou à conduta humana, pois achava que a conduta citadina ou pessoal não tinha diferença alguma.

5) O que se entende por prudência (sabedoria)?

O conceito tradicional de prudência refere-se à conduta racional do ser humano, ou seja, a capacidade de bem dirigir os eventos, tanto pessoais quanto públicos. Não é um conhecimento elevado, uma sapiência livresca, mas o conhecimento das atividades humanas e da melhor maneira de conduzi-las.

6) O que se entende por temperança?

A temperança refere-se à contenção dos prazeres sensitivos dentro dos limites estabelecidos pela razão. A moderação é a temperança no comer; a sobriedade é a temperança no beber; a castidade é a temperança no prazer sexual.

7) O que se entende por coragem?

Platão define-a como "a opinião reta e conforme à lei sobre o que se deve e sobre o que não se deve temer" (Rep. IV, 430 b). Como virtude que constitui a firmeza de propósitos, a coragem é considerada a principal das virtudes.

8) O que se entende por justiça?

Consiste na atribuição, na equidade, no considerar e respeitar o direito e o valor que são devidos a alguém, ou alguma coisa.

9) Dentre as virtudes cardeais, qual a mais importante?

A justiça é considerada a principal delas. Isto porque se não houver justiça, a temperança, a coragem e a prudência podem encaminhar para os seus contrários, que são os vícios.

São Paulo, maio de 2010

 

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